sábado, 29 de setembro de 2007

Opinião de Caio Blinder/Nova York

China é a grande cúmplice dos generais de Mianmá
28/09 - 07:27 - Caio Blinder, de Nova York

NOVA YORK- Em nome dos seus interesses estratégicos e econômicos, a China é um país reacionário, avesso a necessárias mudanças de regime e capaz de se aliar com governos abjetos como a junta militar em Mianmá -que está matando monges budistas e outros manifestantes pró-democracia. Vou repetir: o país reacionário é a China e não os habituais suspeitos habituais ocidentais, a começar os EUA. O governo Bush desta vez está realmente no lado certo da história com suas denúncias e pressões contra um bando de corruptos trogloditas fardados no sudeste asiático.


Mas esta escalada de violência no país vizinho também representa um desafio ao regime chinês, preocupado em forjar uma nova imagem internacional como um "acionista responsável" da ordem mundial, para usar a expressão de Robert Zoellick, hoje presidente do Banco Mundial e que negociou muito com a China quando atuava na diplomacia do governo Bush.

O mundo civilizado espera uma atitude da China. Na quinta-feira, Bush recebeu o ministro das Relações Exteriores chinês, Yang Jiechi, para uma reunião não-programada na Casa Branca para dar um recado: Pequim deve "usar sua influência" para forçar os militares de Mianmá a promover uma transição para a democracia.

Após lavar as mãos no começo da crise dizendo ser contra a interferência em assuntos internos, Pequim agora faz um pouco de média. Pede que "todas as partes" se contenham, ou seja, tanto os brutamontes armados, como os monges pacifistas.

A incompetência dos militares de Mianmá perturba os chineses mais do que sua brutalidade. Para a China, desenvolvimento e estabilidade são mais importantes do que democracia. O fundamental é que o vizinho garanta os suprimentos energéticos para a China superemergente. O problema é que os governantes de Mianmá transformaram um país com ricos recursos naturais no mais miserável do sudeste asiático. Ali na fronteira chinesa, existe uma fonte de instabilidade.

Os chineses começam a entender que precisam carregar uma parte da carga da governança global e não apenas pegar carona, assegurar seu acesso a recursos energéticos e matérias primas e denunciar os vexames da política externa americana. Hoje os chineses cooperam na luta antiterrorista e finalmente concordaram em participar das operações de pacificação na região sudanesa de Darfur, palco de um genocídio, ao invés de se preocuparem apenas em descolar petróleo.

Aliás, a relutância chinesa para apoiar a intervenção na África (contra os interesses do seu aliado, o governo do Sudão) fez com que fossem lançadas campanhas nos EUA e Europa de boicote aos jogos olímpicos de Pequim em 2008. Os chineses não querem que as túnicas cor de alçafrão ensaguentadas dos monges budistas manchem ainda mais sua imagem quando se empenham em ganhar medalha de ouro de responsabilidade com as Olimpíadas do ano que vem. Só falta combinar a tática com os generais de Mianmá.

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