domingo, 30 de setembro de 2007

Santiago. Uma pausa para a delicadeza.


Não podia ter feito uma escolha melhor para encerrar o meu cansativo domingo. Depois de ter cumprido o meu dever, um trabalho que começou sexta e só terminou hoje à tardinha, resolvi ir ao cinema. Ia assistir "Hércules 56", documentário sobre a troca dos presos políticos pelo embaixador alemão, no cinema do Museu, meu preferido. Quando vou confirmar no cineinsite vejo, desolada, que excepcionalmente hoje não haveria a sessão de 20:45, a única que ainda daria tempo de pegar. Não suporto frustração. Eu quero pouco, eu quero dizer, eu não quero coisas difíceis, mas quando eu quero, eu quero muito. Já li que um sinal de maturidade é a capacidade de aguentar frustrações. Se for me basear nesse critério, sou a pessoa mais imatura do mundo. Qualquer frustração, por mais besta que seja, me tira do sério. Resolvo ver outras possibilidades de filmes, irritadíssima, quando me deparo com "Santiago" na Sala de Arte da UFBa. Outro defeito meu: sou avessa a lugares novos, pô, o cinema do museu é tão charmosinho, aquele café, imagino o que não deve ser essa tal sala de cinema da UFBa! pensei, cá com os meus botões. Mas João Moreira Salles merece qualquer sacrifício, continuei pensando, e estava mesmo muito a fim de ver esse filme que ele fez sobre um mordomo que serviu à sua família por 30 anos.
Lá fui eu! Lugar novo = trajeto novo, possibilidade de retorno duvidosa, estacionamento desconhecido, continuei irritada. Tudo isso foi facilmente contornável e cheguei ao local. Uma boa surpresa! Um mural lindo, iluminado, me dá boas-vindas. Estacionamento facílimo! Outra boa surpresa: o café charmosinho também existe lá. E a melhor e mais gratificante surpresa da noite: o filme.
Só para tirar onda, conheço João Moreira Salles desde o tempo em que ele escrevia para o NO (antes desse virar nomínimo, de saudosa memória!). A onda começa agora: tive a cara de pau de mandar para ele um trabalho de arte que fiz para concorrer ao Salão do MAM da Bahia em 2000. Meu trabalho foi recusado, mas eu gostava muito e queria a opinião de alguém abalizado. Mais abalizado que João impossível, ele tinha uma coluna de crítica de arte no NO e eu não perdia uma. Maior não foi a minha surpresa ao receber um email dele, maravilhoso, do qual sobraram vestígios na minha confusa memória, nem de longe tão surpreendente como a de Santiago, o mordomo do filme. Dizia mais ou menos assim: "O que esses jurados do MAM pensam? Que vão encontrar um Boticceli em cada esquina? Seu trabalho reúne duas qualidades raras: Concisão e Eloquência". Pronto! Ganhei muito mais que qualquer prêmio do MAM poderia me dar. Um elogio pessoal de João. Depois ele ficou como convidado do nomínimo, muito espaçadamente escrevia, para minha tristeza. Ensaiei algumas vezes ver o documentário que fez sobre as últimas semanas da campanha de Lula, Entreatos, mas nunca levei a cabo. Até que agora aparece esse deslumbre de filme chamado, simplesmente, Santiago.
É daqueles filmes que se sai do cinema com a enlevada sensação de que valeu a pena ter vivido só para ter o privilégio de ver uma obra dessas. Uma obra rara, de uma simplicidade e delicadeza quase singulares.
Ele tentou fazer o filme há 13 anos, fez o roteiro e algumas cenas com Santiago, mas depois não concluiu, até que uma amiga resolveu ajudá-lo a dar um destino a tão original enredo. E é exatamente o que ele faz: contar pra gente o que ele tinha pensado, porque tal cena era assim, memórias da sua infância atravessadas pelo olhar e pela genuína riqueza interior de Santiago. Amante de castanholas e de dinastias as mais diversas, 30 mil páginas escritas, Santiago pôde, com essas escolhas, livrar-se da melancolia de uma vida que não tem mesmo sentido, na opinião de meu amigo João. Sorry, periferia!

sábado, 29 de setembro de 2007

Opinião de Caio Blinder/Nova York

China é a grande cúmplice dos generais de Mianmá
28/09 - 07:27 - Caio Blinder, de Nova York

NOVA YORK- Em nome dos seus interesses estratégicos e econômicos, a China é um país reacionário, avesso a necessárias mudanças de regime e capaz de se aliar com governos abjetos como a junta militar em Mianmá -que está matando monges budistas e outros manifestantes pró-democracia. Vou repetir: o país reacionário é a China e não os habituais suspeitos habituais ocidentais, a começar os EUA. O governo Bush desta vez está realmente no lado certo da história com suas denúncias e pressões contra um bando de corruptos trogloditas fardados no sudeste asiático.


Mas esta escalada de violência no país vizinho também representa um desafio ao regime chinês, preocupado em forjar uma nova imagem internacional como um "acionista responsável" da ordem mundial, para usar a expressão de Robert Zoellick, hoje presidente do Banco Mundial e que negociou muito com a China quando atuava na diplomacia do governo Bush.

O mundo civilizado espera uma atitude da China. Na quinta-feira, Bush recebeu o ministro das Relações Exteriores chinês, Yang Jiechi, para uma reunião não-programada na Casa Branca para dar um recado: Pequim deve "usar sua influência" para forçar os militares de Mianmá a promover uma transição para a democracia.

Após lavar as mãos no começo da crise dizendo ser contra a interferência em assuntos internos, Pequim agora faz um pouco de média. Pede que "todas as partes" se contenham, ou seja, tanto os brutamontes armados, como os monges pacifistas.

A incompetência dos militares de Mianmá perturba os chineses mais do que sua brutalidade. Para a China, desenvolvimento e estabilidade são mais importantes do que democracia. O fundamental é que o vizinho garanta os suprimentos energéticos para a China superemergente. O problema é que os governantes de Mianmá transformaram um país com ricos recursos naturais no mais miserável do sudeste asiático. Ali na fronteira chinesa, existe uma fonte de instabilidade.

Os chineses começam a entender que precisam carregar uma parte da carga da governança global e não apenas pegar carona, assegurar seu acesso a recursos energéticos e matérias primas e denunciar os vexames da política externa americana. Hoje os chineses cooperam na luta antiterrorista e finalmente concordaram em participar das operações de pacificação na região sudanesa de Darfur, palco de um genocídio, ao invés de se preocuparem apenas em descolar petróleo.

Aliás, a relutância chinesa para apoiar a intervenção na África (contra os interesses do seu aliado, o governo do Sudão) fez com que fossem lançadas campanhas nos EUA e Europa de boicote aos jogos olímpicos de Pequim em 2008. Os chineses não querem que as túnicas cor de alçafrão ensaguentadas dos monges budistas manchem ainda mais sua imagem quando se empenham em ganhar medalha de ouro de responsabilidade com as Olimpíadas do ano que vem. Só falta combinar a tática com os generais de Mianmá.

E o pau continua comendo em Mianmar!

Para quem está estranhando e nunca ouviu falar de Mianmar, é a antiga Birmânia que mudou de nome. As notícias que conseguem vazar são as piores possíveis! Parece que já passam de 200 os mortos nos conflitos de rua num verdadeiro massacre perpetrado pelos militares. Os monges já não são vistos, parece que todos os mosteiros estão ocupados por militares e que estariam em verdadeiros campos de concentração no interior do país. A China, país vizinho, já está preocupada com os jogos olímpicos, de como será a repercussão disso no mundo todo. O Japão, que teve um jornalista assassinado em frente às câmaras, mandou representante oficial para apurar os fatos. O regime militar, em diferentes fases, existe há 40 anos. É um regime autoritário, com pequenas fases de abertura, mas violento, parecido com os períodos de ditadura militar no Brasil, mas dentro de uma cultura diferente, numa sociedade budista. Tirando as diferenças culturais, é um regime militar autoritário como qualquer outro. Agora todo o contato por internet está bloqueado, com boatos de que os militares estariam usando vírus em blogs. É inconcebível que atrocidades desse tipo ainda tenham lugar em nossos dias. E a nossa inoperante política externa nem um piu!

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Monges e população protestam em Mianmar

Imagens do protesto de Mianmar, já conhecida como a "revolução açafrão" devido às cores vermelho e laranja das roupas dos monges

Celular e blogs viram "armas" em Mianmar


Da AFP

Graças às novas tecnologias da comunicação, as manifestações contra o regime militar em Mianmar são acompanhadas por todo o mundo, ao contrário do ocorrido em 1988, antes da internet, quando poucas informações sobre a sangrenta repressão "vazaram" para o resto do planeta.

A onda de protestos mantém semelhanças com o movimento pela democracia de agosto de 1988, que os militares abafaram com armas e que deixou cerca de 3.000 mortos.

Como há 20 anos, também agora o povo saiu às ruas por reivindicações de ordem econômica em um país onde uma família em cada quatro vive abaixo da linha de pobreza.

Mas ao contrário de 1988, as imagens e as informações procedentes de telefones celulares, câmeras de vídeo digitais e blogs na internet que conseguem passar pelas redes de censura do governo, permitem levar ao mundo o testemunho dos acontecimentos.

"Graças à tecnologia, a situação é completamente diferente. Todos, em todo o mundo, podem acompanhar graças à internet o que acontece em Mianmar", afirmou Said Win, chefe de redação do "Mizzima News", um grupo de comunicação com sede na Índia e dirigido por birmaneses no exílio.

"É realmente o resultado da globalização. Queira a junta ou não, o governo já não pode isolar o país do restante do mundo", acrescenta.

No entanto, desde o início dos protestos contra o aumento dos preços dos transportes públicos, o regime militar reduziu consideravelmente o acesso à internet.

Mas cerca de 200 cafés virtuais continuam funcionando em Yangun, a maior cidade do país, permitindo que os estudantes transmitam vídeos e fotos tiradas com seus telefones celulares e câmeras digitais.

"Os jovens sabem como escapar do controle na internet. Recebemos imagens não só de Yangun como também de Mandaly", segunda maior cidade do país, explica Aung Din, diretor da US Campaign For Burma, grupo de oposição ao regime militar com sede em Washington.

Saiba mais

» Polícia prende 100 monges budistas em mosteiro de Mianmar

» Após mortes de monges, ONU enviará representante a Mianmar

» Confrontos com soldados deixam dois monges mortos em Mianmar

Aung Din, que participou das manifestações de 1988, constata uma enorme diferença. "Em 1988, não tínhamos estes meios, especialmente a internet, para fazer com que as mensagens deixassem Mianmar. Ninguém na comunidade internacional estava ciente das primeiras manifestações. Desta vez, todo mundo está informado", afirma.

A "Gazette de Mandalay", com sede na Califórnia, também recebeu dezenas de fotografias e vídeos enviados de Mianmar, país classificado pelas Nações Unidas entre os 20 mais pobres do mundo, que vive sob o jugo dos militares desde 1962.

"Tanto os monges budistas como os estudantes utilizam seus telefones celulares para nos enviar fotos. De certa forma, a internet elimina as diferenças" entre eles, considera um jornalista da Gazette, que solicitou o anonimato.

Para a associação Repórteres Sem Fronteiras, Mianmar, "paraíso dos censores", é um dos países do mundo onde há menos liberdade de imprensa.

(Aqui termina a notícia da AFP) Agora comentário de "cacos": E a nossa tíbia política externa, na figura daquela inoperância chamada Amorim, não quis indicar na ONU sanções para os militares de Mianmar, alegando que o que se pode fazer é fortalecer a democracia. Ah, tá!

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Uma ovelha. Nem negra, nem desgarrada.




Querem fazer de nós um rebanho de cordeiros que não berram ao ir para o matadouro.
Péra aí! sujeito oculto: eles.
Eles quem? Os pensadores da falida política da verticalidade, da representação.
Parece, para "eles", que não há outro caminho possível, depois da "derrocada" do século XX (campos de extermínio e armas nucleares). Olvidam (gostaram do olvidam?) Tá bom, esquecem, parece que de propósito, que toda a tecnociência com fins bélicos um dia se "civiliza", na feliz definição de Paulo Sérgio Duarte, quer dizer, vem servir aos civis.
Comigo não, violão! Não sou mais cabrito, aliás nem sou mais cabrita, sou uma ovelha a pastar num campo sem cercas, berrando baixinho de vez em quando, só para não me esquecer de todo a minha natureza de ovelha.
A Internet, por exemplo, só para ficar num campo mais próximo, foi desenvolvida para fins militares, no auge da guerra fria. Hoje é esse território livre que todos conhecemos, possibilitando dar vez e voz a uma multidão cada vez mais crescente, "monstruosa" mesmo, no dizer de Ivana Bentes, de singularidades. E tome-lhe criatividade, engenhosidade humana desenvolvendo novos e surpreendentes desdobramentos e possibilidades.
O menino de 17 anos que desbloqueou o I-phone, por exemplo, é um ícone desses novos tempos de inusitadas revelações.
"Eles" querem política? Então, tá. Um adolescente na frente de um computador, eis a nova célula revolucionária.

O mundo fica mais triste sem Marcel Marceau!




Lamento informar, senhores, mas perdemos o grande mímico francês Marcel Marceau, domingo, dia 23, aos 84 anos. Participante da resistência francesa, Marcel ficou mesmo conhecido como um original mímico, que conseguia se comunicar com todo o planeta através da sua elegante arte. Segundo um obituário, "O homem preso pelo silêncio. O mais eloqüente de todos os discursos". Saudades...

domingo, 23 de setembro de 2007

continuando...

Diante de tanta informação do seminário, acabei por descobrir muita coisa interessante, com a ajuda do "santo google" como diz Millôr, como o "Manifesto pela Metade" de Jaron Lanier, dêem uma olhada para vcs verem o q se discute hoje como perspectiva da cibercultura. Até em totalitarismo cibernético já se fala, ou seja, é um campo aberto a muitas e algumas delirantes projeções, de como serão os computadores do futuro, se a inteligência artificial superará a humana, enfim, temas do mais relevante interesse. Esse cara, o Jaron, com o seu irônico "Manifesto pela metade", irônico até no nome, é incisivo quanto às loucuras que se cometem em nome da cibercultura. Eu adorei, apesar de desconhecer um grande número de cientistas q ele citou, assim como desconhecia a Lei de Turing e o seu famoso experimento imaginário. "É pedido a um juiz humano que determine qual entre dois respondedores é humano, e qual é uma máquina. Se o juiz não souber, Turing afirma que se deverá considerar que o computador alcançou o status moral e intelectual de um ser humano". Tudo isso está lá, no Manifesto pela Metade. Aconselho a leitura e uma vagarosa digestão, porque tem pano para várias mangas. Fica aqui um convite para reflexões...

sábado, 22 de setembro de 2007

Nietzsche e a Arte

Até que enfim um alívio para as minhas expectativas! Ontem o seminário foi sobre "As duas mutações de Nietzsche", segundo o resumo "...a transvolaração de todos os valores, ou seja, a auto-supressão da moral socrático-platônico-cristã, ensejando o resgate da inocência do vir-a-ser, para além de toda culpa e expiação." O palestrante, Oswaldo Giacoia Júnior, professor de Filosofia, elegantérrimo, de uma finíssima perspectiva intelectual, trouxe-nos uma difícil mas instigante possibilidade de auto-determinação, para além do bem e do mal, humano, demasiado humano, há tantas auroras que não brilharam ainda! Isso é que é visão solar.
E hoje, sexta, tivemos a feliz apresentação de um crítico de arte, Paulo Sérgio Duarte, com o tema "Metamorfoses da Visibilidade", simplesmente fantástico! Mostrando as diversas mutações que a arte já enfrentou, o quanto isso deve ser visto como camadas geológicas, onde a mais recente não é melhor nem pior que a anterior, apenas veio depois. Falou também, até que enfim alguém tinha que falar disso nesse seminário, sobre os novos paradigmas que têm que ser construídos agora, num momento histórico onde cada vez mais o trabalho intelectual substitui o trabalho manual, a mais-valia deixa de ter importância, o próprio movimento sindical, em função disso, se enfraquece, e temos q pensar novas formas de fazer política. A progressiva perda de poder do Estado-nação, na medida em que qualquer investidor hoje pode, do seu computador, resolver se investe em Hong-Kong ou em qualquer outro país, o fluxo de capitais, o fluxo de pessoas, cada vez mais fora do controle dos Estados-nação q têm q ser repensados. É isso aí, Mutações agora toma um outro sentido. Felizmente!

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Greve!

Hoje, deliberadamente, não fui ao Seminário "Mutações", motivo de comentário do minha última postagem. Já estava insatisfeita com o rumo que as coisas estavam tomando naquele ambiente, uma falta de perspectiva total, pessimismo metafísico elevado ao seu último grau, até que resolvo ler sobre a palestra que haveria hoje, quarta. "As mutações do poder e os limites do humano", por Newton Bignotto, prof. de filosofia da UFMG. O resumo: "A partir dos relatos de sobreviventes dos regimes totalitários contemporâneos se podem mapear os caminhos da bestial descida aos infernos sem a perspectiva do paraíso". Deus é mais! como se diz por aqui. Prefiro a esperança de Caetano quando fala "não espero o dia em que todos os homens concordem, apenas sei de diversas harmonias possíveis sem juízo final".
Amanhã, cujo tema será "As duas mutações de Nietzsche", com Oswaldo Giacoia Júnior promete ser mais animado e eu vou. Qualquer coisa, desabafo aqui.

Ainda Mutações!

Esse seminário ainda vai acabar comigo! A palestra hoje foi com Franklin Leopoldo Silva, prof. do Depto. de Filosofia da USP. Baseado em Bergson e Sartre, passando rapidamente por Marx, o palestrante nos deu um quadro sombrio de presente e quase assustador de futuro. Disse q o progresso, considerado no século XIX como a salvação da humanidade, foi desmentido por todo o século XX, e q hoje, o acúmulo quantitativo de tecnologias gera indiferença e homogeneidade, fala de um verdadeiro tédio do progresso, já que as novidades não são mais que previsíveis e rapidamente superadas por outras. A tecnociência a serviço do poder bélico impõe-nos um totalitarismo de fato. A democracia formal, destituída de ideologias (possibilidades de crenças) não faz mais q estabelecer o desaparecimento da política. Terminou com uma frase de Walter Benjamin que chegaria um tempo onde "tudo é sempre novo e sempre igual". Não aguentei e fiz uma pergunta. Claro q muito cuidadosamente, para não ferir susceptibilidades, mas inverti quase tudo do q ele disse, propondo outra via para se pensar nesse "acúmulo quantitativo" não como um gerador de indiferença e tédio, mas de progressiva inclusão social. Citei um outro palestrante que trouxe os avanços da nanotecnologia, com um vídeo onde mostra um paciente totalmente paralisado que conseguia operar um computador apenas com o cérebro. É isso mesmo! não era com o olhar ou com o alfabeto do físico Stephen Hawkings, q é fantástico mas não é novidade, mas com o cérebro mesmo, ele pensa e o computador responde. Uma coisa fascinante, uma máquina de ler pensamentos. Citei também o menino de 17 anos que conseguiu quebrar o bloqueio do I-phone, antes de ser lançado, como uma prova da engenhosidade humana ilimitada, capacidade criativa inesgotável, e é claro que isso servirá a toda a humanidade, de um jeito ou de outro (aqui acaba minha pergunta), basta pensarmos (isso eu não incluí na pergunta) que morríamos de tuberculose, além da sífilis, é claro. São visíveis os ganhos para a humanidade dos progressos científicos, do aumento da longevidade, da diminuição da mortalidade infantil, apesar de ainda termos que conviver com dramáticas situações de miséria e mortes por fome, além de guerras absurdas e levadas a cabo por interesses energéticos. Mas a ciência está aí para nos fazer melhores e a criativade humana para pensar rapidamente numa alternativa energética menos devastadora do que essa do petróleo, para dar um fim a esse inferno vivo q é o oriente médio. Sem contar os problemas religiosos, mas a humanidade chegará à maturidade de não precisar brigar mais para ver de quem é o deus melhor. Terminada minha pergunta, lá em cima, o prof. severamente respondeu-me: "Não estamos melhores. Esse era o pensamento do século XIX, veja o exemplo fracassado das cidades, por exemplo, com sua horda de excluídos. Os periféricos hoje já buscam se organizar e escolher o q devem ou não, o q querem ou não para suas realidades, não querem repetir os padrões da classe média, e isso é um avanço, mas muito pontual. Como vc sabe, o sistema é muito poderoso e coopta tudo, até os movimentos de resistência (veja os punks de boutique, parênteses meu)". Fiquei insatisfeita, é claro, com a sua resposta, primeiro por ele priorizar a política, a velha e vertical política como apanágio para todos os males. Se não estivéssemos indeferentes à política, segundo ele, essas coisas não estariam acontecendo. Acabei de escrever um post sobre política e poder, no caso Renan, e não gostaria aqui de repetir isso. Apenas salientar as possibilidades de um exercício de poder cada vez mais horizontal, no lugar da ditadura do pensamento único ou de democracias falidas. O engraçado é q eu sempre digo, arrogantemente, q nasci no século errado, pensando q seria melhor nascer lá pelo século 42, ou algo assim, e fui mandada de volta para o século XIX, sem o menor escrúpulo, pelo professor. Com exceção da palestra do prof. Jean-Pierre Dupuy "a fabricação do homem e da natureza", que tratou da Nanotecnologia, parece q não estou num seminário sobre Mutaçoes, mas sobre Melancolias de Sistemas Ultrapassados, cujos paradigmas já não servem para dar conta da nossa realidade.

domingo, 16 de setembro de 2007

outras idéias/Heinz von Forster

Tive contato com esse curioso teórico no seminário "Mutações: novas configurações do mundo" Cultura e pensamento em tempos de incerteza, promovido pela Fundação Pedro Calmon e idealizado por Adauto Novaes. Valeu, entre outras coisas, por conhecer, com a ajuda do google mais tarde, aspectos paradoxais do pensamento desse cara, criador da cibernética da segunda ordem. Foi organizado em Viena, em 2003, um Congresso com base em 3 imperativos éticos formulados por Heinz von Förster (um em cada dia): 1) 'Se queres permanecer o mesmo, mude'; 2) 'Se queres ver, aprenda a agir' e 3) 'Aja sempre de modo a aumentar o número de possibilidades'.
Voltarei a comentar sobre esse seminário quando terminar (ainda estamos no meio do encontro).

Renan, assunto inevitável!

Eu vinha pensando cá com os meus botões, depois do escândalo da absolvição de Renan, o ridículo que é essa política de representação. Não me sinto representada por nenhum daqueles calhordas que o absolveram, nem pelos q se abstiveram e nem tampouco pelos q o condenaram. Simplesmente porque acho q a vida real passa ao largo do senado, do congresso, dessa falida política de representação. Não me canso de repetir a frase de Pierre Levy: "Os políticos têm a importância q a gente dá a eles". Aparece sempre um "politizado" para retrucar: "Ora, tudo é política". Acho q não, tudo é poder, e hoje a horizontalidade do poder, cada vez mais tomando o lugar da antiga e ultrapassada verticalidade, abre caminhos para novos exercícios. O uso de veículos como a internet, por exemplo, dá voz a uma "monstruosa junção de singularidades" para repetir a linda frase de Ivana Bentes no Seminário "A Constituição do comum" promovido há pouco pela Facom. Achava-me solitária e delirante até ler a última página de Pompeu Toledo, na Veja, intitulada "Pra que Senado?", onde ele aponta a existência de vários países q simplesmente não têm Senado. Vamos chegar ao ponto de não termos políticos de nenhuma espécie, nem congresso, nem câmara de vereadores, nem executivo, porque, na prática, essas instâncias hoje pouco ou nada apitam, num mundo economicamente globalizado e culturalmente muito diversificado, com enorme fluxo de pessoas e desterritorialização exacerbada. Que identidade ainda é possível nesse mundo? Se interroga a revista Global Brasil, da Universidade Nômade, da qual Ivana Bentes faz parte. Uma identidade cada vez mais provisória, mas que, ao mesmo tempo, exige cada vez mais a responsabilidade pela criação de si.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

outros poemas/Aloysio Falcão

SHEIK

Cão, todo menino,
fragilmente poodle.
Mácula na impura íris,
fuçando carinho na escuridão.

Farejando tão fundo,
tropeçando caminhos,
criança sem rumo,
só muro, sem prumo.

E cá, no chão, impedido,
patas, coração esbarrando afagos,
parando.
Sheik, cachorro cego,
criança,
sem aurora nem poente,
carente,
nunca latiu esperança.

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Marcadores: outros poemas

domingo, 2 de setembro de 2007

outros blogs/marcia rodrigues

USANDO O CÉREBRO 2

Se você conseguir ler as primeiras palavras o cérebro decifrará automaticamente as outras...

3M D14 D3 V3R40, 3574V4 N4 PR414, 0853RV4ND0 DU45 CR14NC45 8R1NC4ND0 N4 4R314. 3L45 7R484LH4V4M MU170 C0N57RU1ND0 UM C4573L0 D3 4R314, C0M 70RR35, P4554R3L45 3 P4554G3NS 1N73RN45. QU4ND0 3575V4M QU453 4C484ND0, V310 UM4 0ND4 3 D357RU1U 7UD0, R3DU21ND0 0 C4573L0 4 UM M0N73 D3 4R314 3 35PUM4.
4CH31 QU3, D3P015 D3 74N70 35F0RC0 3 CU1D4D0, 45 CR14NC45 C41R14M N0 CH0R0, C0RR3R4M P3L4 PR414, FUG1ND0 D4 4GU4, R1ND0 D3 M405 D4D45 3 C0M3C4R4M 4 C0N57RU1R 0U7R0 C4573L0. C0MPR33ND1 QU3 H4V14 4PR3ND1D0 UM4 GR4ND3 L1C40; G4574M05 MU170 73MP0 D4 N0554 V1D4 C0N57RU1ND0 4LGUM4 C0154 3 M415 C3D0 0U M415 74RD3, UM4 0ND4 P0D3R4 V1R 3 D357RU1R 7UD0 0 QU3 L3V4M05 74N70 73MP0 P4R4 C0N57RU1R. M45 QU4ND0 1550 4C0N73C3R 50M3N73 4QU3L3 QU3 73M 45 M405 D3 4LGU3M P4R4 53GUR4R, 53R4 C4P42 D3 50RR1R! S0 0 QU3 P3RM4N3C3 3 4 4M124D3, 0 4M0R 3 C4R1NH0.



0 R3570 3 F3170 D3 4R314

reflexões sobre um furto II



Aconteceu uma coisa tão inacreditável comigo que estou a me indagar se fui furtada mesmo ou estou a delirar, como na charge! Depois do registro aqui da minha desventura na volta do show de gal, com o título de "Reflexões sobre um furto", já tinha marcado no SAC para tirar todas as segundas vias dos documentos, pois os cartões, claro, já os tinha cancelado.
Pois não é que resolvi ligar para a Delegacia de Atendimento ao Turista para saber se haviam encontrado algum documento meu, só naquela de não dizer q não tentei. Pois bem, fui informada q lá não havia nada, mas q deveria dirigir-me ao 18 Batalhão, ao lado do Plano Inclinado, na Praça da Sé. Qual não foi minha decepção ao encontrar uma recepcionista pachorrenta, costurando, sem a menor vontade de me ouvir, qdo perguntei se tinham encontrado algum documento meu. Levei o Boletim de Ocorrência e o Passaporte, q foi o único documento de identificação q estava a salvo, pensando tratar-se de uma coisa séria. A senhora olhou-me como a uma extra-terrestre e disse, bem baianamente: "Tem um saco aqui, se você quiser procurar!". E entregou-me um saco plástico imundo, pesando mais ou menos dois quilos, de documentos perdidos. Quase caio de quatro. Pensei: Nunca vou achar nada meu aqui, esses incompetentes! Mas como tinha ido lá pra fazer isso, decidi-me a procurar (sozinha, sem a ajuda da recepcionista) meus documentos. Minha sorte foi que lá pelo quinquagésimo documento procurado encontrei minha Identidade. Pirei! Se a identidade está aqui, o resto também pode estar, e dediquei-me com mais afinco à inicialmente inócua procura. Resultado: achei TODOS os meus documentos, inclusive o IPVA, documento do veículo. Saí com uma dúvida cruel: será isso um demonstrativo da seriedade dos nossos policiais ou, ao contrário, a prova de que agem em conluio com os assaltantes para a divisão do roubo, sabe como é, um faz de conta q não viu nada, enquanto o outro age e depois repartem os lucros? Importante divulgar q no 18 batalhão há uma infinidade de documentos perdidos, de todos os tipos, carteiras de trabalho, tudo q se possa imaginar, portanto se alguém for assaltado nas imediações do Pelourinho, Salvador, não perca tempo e dirija-se ao 18. Batalhão. Blog também é utilidade pública!

outras idéias/Henry Miller


"Para mim, veja, os artistas, os sábios, os filósofos, trabalham duramente polindo lentes. Um dia essa lente será perfeita; nesse dia todos perceberemos com clareza a assombrosa, a extraordinária beleza deste mundo". Henry Miller