segunda-feira, 18 de agosto de 2008
Eduardo Santos, meu herói!
O judoca Eduardo Santos é eliminado por suíço na busca por uma medalha de bronze e emociona o país com um pedido de desculpa aos pais por não ter conseguido a dita medalha.
Eu tinha jurado não comentar nada sobre essas Olimpíadas, principalmente porque acho um desrespeito a maioria dos atletas não serem patrocinados e prestigiados pelo estado brasileiro e na época das competições serem apresentados como representantes do "Brasil"! essa abstrata e efêmera categoria.
Pois bem, não ia comentar até ver Eduardo Santos aos prantos, pedindo desculpas aos seus pais e se julgando incompetente. Que nada, Eduardo! Você é o legítimo herói, pq lutou sem patrocínio nenhum (levou 10 anos para mudar de faixa, de marrom para preta, pq não tinha dinheiro para fazer a prova). Vcs não acham que seria uma obrigação do Estado Brasileiro patrocinar TODOS os seus atletas olímpicos? Por que umas categorias são superprivilegiadas enquanto outras são absolutamente esquecidas?
Não me conformo e passo ao largo dessa presepada olímpica, a não ser, claro, quando um caso como esse de Eduardo me comove.
Felizmente, sua recepção na chegada ao Rio foi animadíssima, muito calorosa do aeroporto até seu bairro. Virou herói! Parabéns, Eduardo!
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sábado, 16 de agosto de 2008
Obra-prima/Caymmi
(Obrigada ao Blag pela linda foto!)
Milagre
Maurino Dadá e Zé Caô
Embarcaram de manhã
Era quarta feira santa dia de pescar e de pescador
Se sabe que muda o tempo
Se sabe que o tempo vira
Ai o tempo virou
Maurino que é de guenta guento
Dada que é de labutar labutou
Zeca esse nem falou
Era só jogar a rêde e puxar
Era só jogar a rêde e puxar
Se Caymmi tivesse feito só essa música, teria justificado a sua existência. Coisa de gênio!
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Conflito e decisão de um juiz baiano
Sábado, 16 de Agosto de 2008
Conflito e decisão de um juiz baiano
Recebi essa crônica por email.
A CRÔNICA DE UM CRIME ANUNCIADO
Processo Número1863657-4/2008
Autor: Ministério Público Estadual
Réu: B.S.S
B.S.S é surdo e mudo, tem 21 anos e é conhecido em Coité como Mudinho.
Quando criança, entrava nas casas alheias para merendar, jogar videogame,
para trocar de roupa, para trocar de tênis e, depois de algum tempo, também
para levar algum dinheiro ou objeto. Conseguia abrir facilmente qualquer
porta, janela, grade, fechadura ou cadeado. Domou os cães mais ferozes,
tornando-se amigo deles. Abria também a porta de carros e dormia candidamente
em seus bancos. Era motivo de admiração, espanto e medo!
O Ministério Público ofereceu dezenas de Representações contra o então
adolescente B.S.S. pela prática de "atos infracionais" dos mais diversos. O
Promotor de Justiça, Dr. José Vicente, quase o adotou e até o levou para
brincar com seus filhos, dando-lhe carinho e afeto, mas não teve condições de
cuidar do Mudinho.
O Judiciário o encaminhou para todos os órgãos e instituições possíveis,
ameaçou prender Diretoras de Escolas que não o aceitavam, mas também não teve
condições de cuidar do Mudinho.
A comunidade não fez nada por ele.
O Município não fez nada por ele.
O Estado Brasileiro não fez nada por ele.
Hoje, B.S.S tem 21 anos, é maior de idade, e pratica crimes contra o
patrimônio dos membros de uma comunidade que não cuidou dele.
Foi condenado, na vizinha Comarca de Valente, como "incurso nas sanções do
art. 155, caput, por duas vezes, art. 155, § 4º, inciso IV, por duas vezes e
no art. 155, § 4º, inciso IV c/c art. 14, inciso II", a pena de dois anos e
quatro meses de reclusão.
Por falta de estabelecimento adequado, cumpria pena em regime aberto nesta
cidade de Coité.
Aqui, sem escolaridade, sem profissão, sem apoio da comunidade, sem família
presente, sozinho, às três e meia da manhã, entrou em uma marmoraria e foi
preso em flagrante. Por que uma marmoraria?
Foi, então, denunciado pelo Ministério Público pela prática do crime previsto
no artigo 155, § 4º, incisos II e IV, c/c o artigo 14, II, do Código Penal,
ou seja, crime de furto qualificado, cuja pena é de dois a oito anos de
reclusão.
Foi um crime tentado. Não levou nada.
Por intermédio de sua mãe, foi interrogado e disse que "toma remédio
controlado e bebeu cachaça oferecida por amigos; que ficou completamente
desnorteado e então pulou o muro e entrou no estabelecimento da vítima quando
foi surpreendido e preso pela polícia."
Em alegações finais, a ilustre Promotora de Justiça requereu sua condenação
"pela pratica do crime de furto qualificado pela escalada."
B.S.S. tem péssimos antecedentes e não é mais primário. Sua ficha,
contando os casos da adolescência, tem mais de metro.
O que deve fazer um magistrado neste caso? Aplicar a Lei simplesmente?
Condenar B.S.S. à pena máxima em regime fechado?
O futuro de B.S.S. estava escrito. Se não fosse morto por um "proprietário" ou
pela polícia, seria bandido. Todos sabiam e comentavam isso na cidade.
Hoje, o Ministério Público quer sua prisão e a cidade espera por isso. Ninguém
quer o Mudinho solto por aí. Deve ser preso. Precisa ser retirado do seio da
sociedade. Levado para a lixeira humana que é a penitenciária. Lá é seu lugar.
Infelizmente, a Lei é dura, mas é a Lei!
O Juiz, de sua vez, deve ser a "boca da Lei."
Será? O Juiz não faz parte de sua comunidade? Não pensa? Não é um ser humano?
De outro lado, será que o Direito é somente a Lei? E a Justiça, o que será?
Poderíamos, como já fizeram tantos outros, escrever mais de um livro sobre
esses temas.
Nesse momento, no entanto, temos que resolver o caso concreto de B.S.S. O que
fazer com ele?
Nenhuma sã consciência pode afirmar que a solução para B.S.S seja a
penitenciária. Sendo como ela é, a penitenciária vai oferecer a B.S.S. tudo o
que lhe foi negado na vida: escola, acompanhamento especial, afeto e
compreensão? Não. Com certeza, não!
É o Juiz entre a cruz e a espada. De um lado, a consciência, a fé cristã, a
compreensão do mundo, a utopia da Justiça... Do outro lado, a Lei.
Neste caso, prefiro a Justiça à Lei.
Assim, B.S.S., apesar da Lei, não vou lhe mandar para a Penitenciária.
Também não vou lhe absolver.
Vou lhe mandar prestar um serviço à comunidade.
Vou mandar que você, pessoalmente, em companhia de Oficial de Justiça desse
Juízo e de sua mãe, entregue uma cópia dessa decisão, colhendo o "recebido", a
todos os órgãos públicos dessa cidade: Prefeitura, Câmara e Secretarias
Municipais; a todas as associações civis dessa cidade: ONGs, clubes,
sindicatos, CDL e maçonaria; a todas as Igrejas dessa cidade, de todas as
confissões; ao Delegado de Polícia, ao Comandante da Polícia Militar e ao
Presidente do Conselho de Segurança; a todos os órgãos de imprensa dessa
cidade e a quem mais você quiser.
Aproveite e peça a eles um emprego, uma vaga na escola para adultos e um
acompanhamento especial. Depois, apresente ao Juiz a comprovação do
cumprimento de sua pena e não roubes mais!
Expeça-se o Alvará de Soltura.
Conceição do Coité- BA, 07 de agosto de 2008,
ano vinte da Constituição Federal de 1988.
Bel. Gerivaldo Alves Neiva
Juiz de Direito
www.amab.com.br/gerivaldoneiva
Conflito e decisão de um juiz baiano
Recebi essa crônica por email.
A CRÔNICA DE UM CRIME ANUNCIADO
Processo Número1863657-4/2008
Autor: Ministério Público Estadual
Réu: B.S.S
B.S.S é surdo e mudo, tem 21 anos e é conhecido em Coité como Mudinho.
Quando criança, entrava nas casas alheias para merendar, jogar videogame,
para trocar de roupa, para trocar de tênis e, depois de algum tempo, também
para levar algum dinheiro ou objeto. Conseguia abrir facilmente qualquer
porta, janela, grade, fechadura ou cadeado. Domou os cães mais ferozes,
tornando-se amigo deles. Abria também a porta de carros e dormia candidamente
em seus bancos. Era motivo de admiração, espanto e medo!
O Ministério Público ofereceu dezenas de Representações contra o então
adolescente B.S.S. pela prática de "atos infracionais" dos mais diversos. O
Promotor de Justiça, Dr. José Vicente, quase o adotou e até o levou para
brincar com seus filhos, dando-lhe carinho e afeto, mas não teve condições de
cuidar do Mudinho.
O Judiciário o encaminhou para todos os órgãos e instituições possíveis,
ameaçou prender Diretoras de Escolas que não o aceitavam, mas também não teve
condições de cuidar do Mudinho.
A comunidade não fez nada por ele.
O Município não fez nada por ele.
O Estado Brasileiro não fez nada por ele.
Hoje, B.S.S tem 21 anos, é maior de idade, e pratica crimes contra o
patrimônio dos membros de uma comunidade que não cuidou dele.
Foi condenado, na vizinha Comarca de Valente, como "incurso nas sanções do
art. 155, caput, por duas vezes, art. 155, § 4º, inciso IV, por duas vezes e
no art. 155, § 4º, inciso IV c/c art. 14, inciso II", a pena de dois anos e
quatro meses de reclusão.
Por falta de estabelecimento adequado, cumpria pena em regime aberto nesta
cidade de Coité.
Aqui, sem escolaridade, sem profissão, sem apoio da comunidade, sem família
presente, sozinho, às três e meia da manhã, entrou em uma marmoraria e foi
preso em flagrante. Por que uma marmoraria?
Foi, então, denunciado pelo Ministério Público pela prática do crime previsto
no artigo 155, § 4º, incisos II e IV, c/c o artigo 14, II, do Código Penal,
ou seja, crime de furto qualificado, cuja pena é de dois a oito anos de
reclusão.
Foi um crime tentado. Não levou nada.
Por intermédio de sua mãe, foi interrogado e disse que "toma remédio
controlado e bebeu cachaça oferecida por amigos; que ficou completamente
desnorteado e então pulou o muro e entrou no estabelecimento da vítima quando
foi surpreendido e preso pela polícia."
Em alegações finais, a ilustre Promotora de Justiça requereu sua condenação
"pela pratica do crime de furto qualificado pela escalada."
B.S.S. tem péssimos antecedentes e não é mais primário. Sua ficha,
contando os casos da adolescência, tem mais de metro.
O que deve fazer um magistrado neste caso? Aplicar a Lei simplesmente?
Condenar B.S.S. à pena máxima em regime fechado?
O futuro de B.S.S. estava escrito. Se não fosse morto por um "proprietário" ou
pela polícia, seria bandido. Todos sabiam e comentavam isso na cidade.
Hoje, o Ministério Público quer sua prisão e a cidade espera por isso. Ninguém
quer o Mudinho solto por aí. Deve ser preso. Precisa ser retirado do seio da
sociedade. Levado para a lixeira humana que é a penitenciária. Lá é seu lugar.
Infelizmente, a Lei é dura, mas é a Lei!
O Juiz, de sua vez, deve ser a "boca da Lei."
Será? O Juiz não faz parte de sua comunidade? Não pensa? Não é um ser humano?
De outro lado, será que o Direito é somente a Lei? E a Justiça, o que será?
Poderíamos, como já fizeram tantos outros, escrever mais de um livro sobre
esses temas.
Nesse momento, no entanto, temos que resolver o caso concreto de B.S.S. O que
fazer com ele?
Nenhuma sã consciência pode afirmar que a solução para B.S.S seja a
penitenciária. Sendo como ela é, a penitenciária vai oferecer a B.S.S. tudo o
que lhe foi negado na vida: escola, acompanhamento especial, afeto e
compreensão? Não. Com certeza, não!
É o Juiz entre a cruz e a espada. De um lado, a consciência, a fé cristã, a
compreensão do mundo, a utopia da Justiça... Do outro lado, a Lei.
Neste caso, prefiro a Justiça à Lei.
Assim, B.S.S., apesar da Lei, não vou lhe mandar para a Penitenciária.
Também não vou lhe absolver.
Vou lhe mandar prestar um serviço à comunidade.
Vou mandar que você, pessoalmente, em companhia de Oficial de Justiça desse
Juízo e de sua mãe, entregue uma cópia dessa decisão, colhendo o "recebido", a
todos os órgãos públicos dessa cidade: Prefeitura, Câmara e Secretarias
Municipais; a todas as associações civis dessa cidade: ONGs, clubes,
sindicatos, CDL e maçonaria; a todas as Igrejas dessa cidade, de todas as
confissões; ao Delegado de Polícia, ao Comandante da Polícia Militar e ao
Presidente do Conselho de Segurança; a todos os órgãos de imprensa dessa
cidade e a quem mais você quiser.
Aproveite e peça a eles um emprego, uma vaga na escola para adultos e um
acompanhamento especial. Depois, apresente ao Juiz a comprovação do
cumprimento de sua pena e não roubes mais!
Expeça-se o Alvará de Soltura.
Conceição do Coité- BA, 07 de agosto de 2008,
ano vinte da Constituição Federal de 1988.
Bel. Gerivaldo Alves Neiva
Juiz de Direito
www.amab.com.br/gerivaldoneiva
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
A bomba de Patrícia Pillar
Sou conterrânea de Waldick Soriano, como sabe quem já leu meu perfil. Assisti a um show no ano passado na AABB de Piatã, Salvador, e aguardava com muita ansiedade o filme que Patrícia Pillar tinha feito sobre ele, amplamente divulgado pela mídia e pela própria autora. Finalmente, o IV Seminário de Cinema da Bahia nos presenteou, no último dia, com o tão aguardado filme. Vocês sabem que conterrâneo que se preza vai de renca prestigiar o artista famoso, ainda mais nesse caso, em que o homenageado está muito doente, em fase terminal mesmo, como se noticia, e lá fui eu com um monte de caetiteenses querendo ver como tinha sido essa provavelmente derradeira homenagem em vida.
O filme começou estranho, com uma atmosfera de passado, uma volta do artista à sua cidade natal num carro. Até aí se entendia, se estava querendo esse clima de passado, que as cores fossem meio mortas, para dar a impressão de imagem de arquivo.
O estranho é que o filme continua assim o tempo todo! Um artista "brega" como Waldick merecia uma fotografia mais vibrante, colorida, e não aquele desbotamento de filme antigo. E o som? Vocês lembram como era antigamente filme nacional? Aquele som horrível, onde você se esforça para entender o que os personagens dizem? Pois foi assim quase que o tempo inteiro.
Realmente, Waldick merecia uma despedida melhor e seus fãs também!
Lá da UTI de Fortaleza ele deve ter resmungado baixinho: "Eu não sou cachorro não!"
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Eu não sou cachorro não
De volta à rede!
Estive tão ocupada, mas tão ocupada, que quando ligava o computador mal tinha tempo de ler e responder meus emails! Nada de inspiração para postar o que quer que fosse, nem uma linha... Resolvi não me torturar mais e esperar o trabalho acabar, afinal tudo na vida passa, para poder dar um pouco mais de atenção ao "meu querido blog"!
Agora, aproveitando uma folguinha até o próximo trabalho, que felizmente já está a caminho, resolvi dar um alô pras pessoas que, como Marcus Gusmão, não aguentavam mais ver eu botar a culpa em Fidel.
Notícias desse tempo ausente? Um seminário com o psicanalista francês Charles Melman, aguardado por mim com muita expectativa, mas que acabou sendo um pouco frustrante pelo fato de não ter ouvido nenhuma novidade. Conheço sua obra, e talvez por isso não me surpreendi, ao contrário da grande maioria da platéia, com suas afirmações. Admiro sua habilidade em expressar-se mas isso também já era esperado. Não fui ao TCA, preferi pagar bem menos num espaço privado, no que fiz muito bem.
Agora, aproveitando uma folguinha até o próximo trabalho, que felizmente já está a caminho, resolvi dar um alô pras pessoas que, como Marcus Gusmão, não aguentavam mais ver eu botar a culpa em Fidel.
Notícias desse tempo ausente? Um seminário com o psicanalista francês Charles Melman, aguardado por mim com muita expectativa, mas que acabou sendo um pouco frustrante pelo fato de não ter ouvido nenhuma novidade. Conheço sua obra, e talvez por isso não me surpreendi, ao contrário da grande maioria da platéia, com suas afirmações. Admiro sua habilidade em expressar-se mas isso também já era esperado. Não fui ao TCA, preferi pagar bem menos num espaço privado, no que fiz muito bem.
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