quinta-feira, 25 de março de 2010

Descansa em paz, meu capitão!




Fui sobressaltada hoje com a trágica (mas não surpreendente) notícia da morte de Luís Carlos Rufo, meu eterno capitão, que vinha lutando há mais de ano contra um câncer. Dia 23 de março, em SP. Estive lá em janeiro, tentei contato, mas já não foi possível. Vaidoso e sedutor como era, talvez não tenha querido que eu o visse tão debilitado. Demasiado humano.

Abaixo, um texto que escrevi a seu pedido, em 2007, apresentando a sua coleção de 120 pratos, como minha mais sofrida homenagem.



Sexta-feira, Setembro 07, 2007
"Os Pratos de Rufo"
Meu impertinente capitão pediu-me que escrevesse uma apresentação para os seus pratos. Esse pedido poderia ser de fácil execução, não fosse Rufo o diversificado e talentosíssimo artista que é. Poeta, escritor, escultor, pintor, nada no mundo das artes passa incólume pelas mãos de Rufo.

Sua coleção de 120 pratos (isso mesmo 120!) é uma estonteante viagem que atravessa a mitologia, a história da arte, da filosofia, da poesia para nos encantar a todos com seus vigorosos contrastes de cor, textura e temporalidades diversas.

Cada um dos pratos encerra uma história única, portador de uma estética peculiar que, em conjunto, dá, a quem tem o privilégio de visualizar a totalidade da obra, uma breve noção do alumbramento desse mais recente trabalho. Vigoroso e de uma fertilidade espantosa, Rufo presenteia-nos com seu particular universo mítico, onírico e surreal, ao trazer para o nosso quotidiano, na forma de um objeto absolutamente trivial e ao mesmo tempo sagrado que é o prato, a estética do imprevisível.

O prato, em Rufo, não mais é receptáculo para o alimento diário, mas uma metáfora de todas as nossas fomes, inclusive, e principalmente, a fome inútil e desnecessária da arte. “A gente não quer só comida” parece brandir Rufo, rufar Rufo, a cada prato exibido. Queremos beleza, queremos filigranas insuspeitas, queremos inutilidades estéticas, queremos pratos que não servem para comer, não servem para nada além de serem apreciados como pratos em si mesmos, transubstanciados pela magia da arte que nos alivia a vida e nos fortalece frente à morte.

Pratos eternos, perpetuados pela laboriosa mão do artista que, mais uma vez, serve a nós, pobres mortais, um gostinho de deus.

Christiana Fausto


Mais Rufo em luizcarlosrufo.blogspot.com

5 comentários:

Anônimo disse...

Olá Christiana

Agradecemos o carinho ao nosso querido pai.
abs
Dora

Anônimo disse...

Christiana

sabemos que ele está bem, mas é tão dificil neh!
... A ARTE de RUFO, vai seguir o caminho que ele traçou.
saudades de tudo!

Clarice

Christiana Fausto disse...

Clarice,

Que bom que vc entrou em contato. Quis tanto falar com vc sobre essa dor mas não tinha seu contato. Seus comentários são sempre como anônimo o que não me deu acesso.
É isso!
Saudades de tudo. Tenho botado umas coisinhas no blog, mas a dor é imensa...
O www.expoart.com site do qual ele era colaborador aqui na Bahia publicou uma notinha minha acompanhada do que escrevi sobre os pratos. Saudade! Muita saudade!
Veja se deixa um email ou algum contato aqui para qdo quiser falar com vc. Obrigada pelo comentário e um grande abraço solidário.

Anônimo disse...

Oi Chris
também quis muito lhe falar..., me liga 11-72130037 ou clarasanches@uol.com.br.
amplexo dolorido querida

Edson Rufo disse...

Vim te agradecer por esse Carinho.
Muito obrigado por lembra-lo.
A arte não perde eterniza. Dificil o sentimento humano mais bela alma do artista.
Doi mais não machuca.
É um silêncio do céu da palavra do gesto.
Cristina obrigado
beijos
Edson rufo