sábado, 27 de março de 2010

Um Barco para Fausto



texto de Luiz Carlos Rufo
Não vejo meu barco em seu porto, apesar de fundeá-lo em seus arredores constantemente.Tenho astrolábio na mão, tenho cartas altimétricas, tenho a posição dos astros e sinto a brisa que bate. Admiro-me da natureza humana, sempre imprevista, pequena e apaixonante. Guio-me, portanto, por cartas, esquemas e pequenos decretos que instituo daqui do trono em que me sento e que ocupo, rico e cobreado, com o sol pela direita, com estrelas no espaldar. Um leão proteje meus pés da umidade de certas palavras. Um cão, sempre fiel, dá-me a noção do que é amor.
1º estudar o local - Devemos conhecer ou pela prática ou por uma carta náutica/poética o local de portos de outrem onde fundear, é sempre bom, ou seja, o tipo de fundo filosófico, altura da sonda das emoções, condições atmosféricas e de mar lingüísticos, a previsão das marés vindas de lá, delas, e se existem outras embarcações já fundeadas, amores. Convém ter sempre uma alternativa no caso da manobra falhar, ter saudades, ou não resultar. Devemos escolher fundos de areia ou lodo e não muito altos, e esculpir com pedras achadas. Daí olhamos o que se pode desenhar; 2º preparar o ferro - Um tripulante à proa, camisa branca e boné, com o ferro preparado para largar. Amarras sem tropeços e convés limpo de modo que não haja impedimentos à saída ou a dança. Talvez seja necessário acrescentar a boia de arinque, ou sanduiches com sucos leves; 3º aproar ao mais forte - Quando se aproximar do local, aproado ao mais forte, vento ou corrente, retire motor e arreie a vela de proa - e a grande se aproar à corrente; 4º arrear o ferro - À ordem do comandante, quando o barco começar a andar à ré, deve descer (não atirar!) o ferro até tocar no fundo. Soltar devagar a amarra de maneira a facilitar, com o peso que o barco exerce, o unhar no fundo.Normalmente larga-se 3 a 5 vezes de amarra em altura do fundo em condições normais. De 5 a 7 vezes de amarra se houver previsão de "tempo" rijo; 5º verificar a posição Depois de amarrar o cabo num cunho é altura de verificar através de pontos de referência fixos na costa se o barco não descai. Não se esqueça de prever a eventual rotação se o vento ou maré virar. Somos bons, somos amigos.
Sei que meus exercitos não marcharam essa noite; que poucas fogueiras, postas aqui e ali, queimarão; vejo cabanas calmas, cavalos, brisa leve com cheiro de espigas de milho fervendo em água, um céu nobre. Tudo isso é calma por agora.
Luiz Carlos Rufo
posted by Luiz Carlos Rufo at Domingo, Maio 20, 2007 6 comments links to this post

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