terça-feira, 23 de dezembro de 2008

E la nave continua indo...



Lá vamos nós para 2009, catando os caquinhos do que foi esse ano que passou, balanços das nossas vidas, planos para o novo ano que chega... Final de ano é sempre essa hora de repensarmos o rumo das nossas barcas, mudança de rotas, desvios, atalhos, sempre a ilusão da possibilidade de um recomeço, como se nossas vidas estivessem atreladas a calendários vãos. Apesar de boa parte da humanidade não considerar essa data o fim de um ano, para nós é sempre uma hora de acerto de contas. Então vamos nessa! Sem retrospectivas, por favor, que disso se encarregam os medíocres meios de comunicação. O "cacos" compartilha com seus amigos fé no futuro. Coisa difícil, quando lembramos que teremos pela frente sabe-se lá que consequências de uma crise que nem fazemos idéias das proporções. Quase impossível ficar imune a isso, por mais que se tente. Ainda assim, fé no futuro que virá, que já vem vindo, como "anuncia" Alceu Valença:

Na bruma leve das paixões
Que vem de dentro
Tu vens chegando
Pra brincar no meu quintal
No teu cavalo
Peito nu, cabelo ao vento
E o sol quarando
Nossas roupas no varal...
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais...
A voz do anjo
Sussurrou no meu ouvido
Eu não duvido
Já escuto os teus sinais
Que tu virias
Numa manhã de domingo
Eu te anuncio
Nos sinos das catedrais...
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais...


E um pouco de Drummond, que ninguém é de ferro:


Receita de ano novo

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido (mal vivido talvez ou sem sentido)para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas (a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens? passa telegramas?)
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar que por decreto de esperança a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.

Um grande 2009 a todos! Façamos por merecê-lo.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Libertada Caroline

Saiu da cadeia ontem a pixadora da 28ªBienal de SP, Caroline Pivetta da Mota (que se assina "Sustos"), que passa a responder processo em liberdade.
"Entre o vazio existencial da jovem 'Sustos' e o vazio conceitual da Bienal, há menos identificação do que antagonismo: a fúria da primeira é o impulso desesperado de vida que traz a luz o espírito burocrático e mortificante da segunda. O templo da arte contemporânea (a Bienal) faz aqui o papel (ou papelão) de museu do que há de pior na tradição nacional. Ou esse qüiproquó artístico-policial não é um sinal das nossas iniqüidades de sempre?" ("O vazio e a fúria", Fernando de Barros e Silva na Folha de São Paulo, 15/12/2008).

postado por Jozias Benedicto às 12:24

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

O vazio de Caroline


A prisão da pixadora do "vazio" da Bienal, Caroline Mota, 23 anos, por 50 dias no meio de mais de 4o pixadores, tendo sido a única punida porque não conseguiu comprovar residência e já ter antecedentes (como pixadora) é mesmo algo a se lamentar.

Uma bienal que se propõe um andar vazio nesses tempos de arte contemporânea, era no mínimo de se esperar alguma intervenção como essa. Parece que estavam convidando, até em nome de atrair uma suposta mídia, o que conseguiu.

Tentativa de suicídio aos 17 anos, admiradora confessa da bienal, Caroline parece retratar o vazio do nosso tempo.

Cinema no passeio

Até o próximo domingo, 21, os moradores e turistas da região do Passeio Público, bairro de Campo Grande, poderão assistir a exibições gratuitas de filmes nacionais ao ar livre. A iniciativa, batizada de Cinema no Passeio, é patrocinada pelo Banco do Brasil e traz filmes em formato digital, com áudio e imagem melhorados no caso dos filmes mais antigos, segundo a assessoria do TVV.

Dentre os que serão exibidos, destaque para Baile Perfumado; Cinema, Aspirinas e Urubus; Janela da Alma e Deus e o Diabo na Terra do Sol. Antes dos longas, são mostrados curtas realizados nos últimos anos no estado.

Serviços:
Cinema no Passeio - Cinema Brasileiro ao ar livre
Local: Passeio Público, Campo Grande - Salvador/BA
Datas: de 15 a 21/12 às 18h
Preço: Grátis
Contatos: (71) 3083-4610 ou www.programadorabrasil.com.br

Louvável a iniciativa. O Passeio Público é um lugar lindo e inacreditavelmente abandonado, como muitos aqui em Salvador. Essa idéia poderia se estender por vários meses, numa tentativa de revitalizar a área.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Novo Glauber Rocha


Estive na inauguração do Cine Glauber Rocha. Marcado oficialmente para as 19 horas, com uma entrevista de Rogério Duarte, filme as 20 e coquetel depois. Tudo muito razoável, se não estivéssemos na Bahia.
A tal entrevista ninguém soube dizer onde aconteceu, uma das salas de exibição, a sala 1, ficou para os "notáveis" (família de Glauber e oficialato) e o público foi distribuído em mais 2 salas. Às 21 horas exatamente, em função da discurseira do oficialato, começou a projeção do Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, cópia restaurada. Ou seja, o coquetel começou quase 23 horas, coisa impensável para quem vai ao centro sem carro. Esse é o horário do último buzu que sai da rua Chile.
Pra não dizer que só falei mal, o espaço cultural está fantástico, de muito bom gosto. Resta saber se vai vingar, a não ser que se repense essa questão do transporte público praquela região. Já tinha comentado o mesmo sobre o Pelourinho. Revitalicação do centro? Transporte 24 horas, pelo menos!

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Mercado Cultural, Rumpilezz com Stanley Jordan e Armandinho

A semana foi, culturalmente, muito movimentada aqui em Salvador. Tivemos o Mercado Cultural, esse ano um pouco mais minguado por falta de patrocínio (inacreditável!) mas ainda assim muito diversificado e de alto nível.

Terça foi a vez do Rumpilezz na Praça Tereza Batista "de grátis", com as luxuosas presenças de Armandinho e Stanley Jordan, que está querendo comprar uma casa em praia do Forte. O show foi muito bom, lotado. Ficam o mês de dezembro, todas as terças-feiras. Iniciativas como essa é que podem ainda salvar o decrépito Pelourinho. Música, teatro, dança, e principalmente transporte, para que quem não tem carro possa ir sem se preocupar com o último "buzu" 23 horas na Praça da Sé. Só mesmo na Bahia!

Sem contar o Samba do Circo Picolino, toda terça também, a partir das 20 h. Com o Coletivo do Samba, é coisa da melhor qualidade!

domingo, 7 de dezembro de 2008

Parabéns, professora Ninfa!

Professora de Pindaí recebe prêmio nacional
Experiência educativa da pedagoga Ninfa Freire ficou entre os 10 melhores trabalhos do Brasil voltados para Educação Fundamental
jornalista Silvia Araújo

A professora baiana Ninfa Freire Fausto, natural de Guanambi, foi selecionada no Prêmio Professores do Brasil - 3ª Edição. A experiência educativa "Lembranças que vão, lembranças que vêm. Entre na roda você também", que desenvolveu na Escola Municipal Thales Fausto, localizada na fazenda Lagoa Funda, no município de Pindaí, que fica a 800 km de Salvador, para alunos da 1ª série do 1° grau, ficou entre os 10 melhores trabalhos do Brasil voltados para Educação Infantil.
A premiação aconteceu em Brasília no 3º Seminário Prêmio Professores do Brasil, nos dias 2 e 3 de dezembro, com a participação do ministro da educação Fernando Hadad. O Prêmio Professores do Brasil é realizado pelo MEC (Ministério da Educação (Consed), e União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime). A unidade de ensino também foi premiada e vai receber muitos prêmios.

Conhecimento histórico local

"Lembranças que vão, lembranças que vêm. Entre na roda você também" surgiu com a possibilidade de promover o conhecimento histórico nas séries iniciais, sem obedecer aos tradicionais temas fixos do calendário festivo, normalmente contemplados pelas escolas públicas. A proposta era fazer com que o aluno assimilasse os conhecimentos de história, se situando no tempo e espaço em que vive, observando sua realidade e cultura.
Assim, a professora iniciou um trabalho de pesquisa que possibilitou a valorização do lugar sociocultural do aluno e suas formas de representações de saberes construídos em todas as experiências socioeducativas e nos espaços escolares. Portanto, foi considerado uma personagem histórica local, Hilda Gottschalk, e os documentos pertencentes a ela. "Desvendar, estudar, conhecer o mito Hilda Gottschalk era mesmo que proporcionar aos educandos a oportunidade de pensar sobre a construção histórica de sua localidade, sua forma de viver, organizar, sentir, aprendendo assim a valorizar o patrimônio, que está presente na comunidade e que tanto reforça a identidade local", explica ela.
Lecionando desde 1994 na mesma unidade de ensino, a professora Ninfa ostenta uma série de prêmios, como o Amiga da Cultura, da Associação de Cultura e Desenvolvimento Educacional (ABCDE), com apoio da UNICEF, em 2000; 500 anos do Brasil (Professores nota 10), em 1999, promovido pela Rede Globo de Televisão; Escuelas que Hacen Escuela, da Organización de Estados Iberoamenicanos (OEI), em 2000, e Prêmio Incentivo à Educação Fundamental, do MEC e Fundação Bunge, nos anos 2001, 2002 e 2003. Além disso, foi agraciada com os diplomas de Honra ao Mérito com o Programa: Educar para Vencer, concedido pela Secretaria de Educação Estadual da Bahia, edições 2001,2003 e 2005; e pela Secretaria do Ensino Fundamental (MEC), em 2000, 2004 e 2005.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Dr. Dantas faz 90 anos!

Doutor Dantas foi uma figura mitológica da minha infância. Meus pais e avós sempre se referiram a ele com muito reverente respeito, acentuando a figura do grande médico que salvou muitas vidas naquele sertão de Urandi e redondezas. Eis que agora recebo do seu filho, o maestro Fred Dantas, o comunicado dos seus 90 anos. É com muita honra que publico aqui o texto que me enviou.

Fred Dantas
O dia 3 de Dezembro de 2008 é muito importante para a humanidade. Nesta data Dr. Dorivaldo Dantas completa 90 anos. Sem receio de parecer exagerado ou por demais emotivo, diria que, hoje, o ciclo previsto pelo Criador para o ser humano chega a um êxito fantástico.
Um homem, uma pessoa, um filho de Deus nasce, tem lá sua primeira infância, depois torna-se um estudante exemplar, por fim ingressando na honrosa e bicentenária Faculdade de Medicina da Bahia, onde se diplomou em 1944. Conhece uma linda jovem, Edith, com ela se casa e tem quatro filhos.
Enquanto isso, como profissional, constrói uma carreira exemplar, especializando-se em Pedriatria. Colega e contemporâneo de outros referenciais da medicina, como José Silveira e Paulo Jesuíno, optou por tornar-se um médico-sacerdote do povo do interior. Em Urandi, fronteira da Bahia com Minas, torna-se um mito de eficiência e caridade. Há quatro anos o Cremeb lhe outorgou prêmio por 50 anos de exercício da Medicina sem sofrer qualquer censura.
Atravessou a fase tardia dos coronéis, dos currais eleitorais, do Estado Novo, da democracia, da ditadura, da democracia de novo, sem nunca declarar apoio explícito a candidato algum. Seu atendimento se dirigia às pessoas, fossem elas de que corrente fossem. Jamais se beneficiou de indicações, conchavos ou imediatismos políticos, aposentando-se finalmente como médico do SUS, com vencimentos aviltantes em relação a tudo o que trabalhou.
Também nunca tive conhecimento de brigas públicas, disputa judicial, luta por espólios, intrigas, inimizades, tudo isso se constituiu em palavras estranhas ao admirável mundo construído por Dr. Dantas. Acostumei-me, ao contrário, a ouvir bênçãos de pessoas humildes, declarações de reconhecimentos de alunos, elogios derramados de políticos, companheirismo e fidelidade dos amigos.
Dr. Dantas, enquanto morador de pequena localidade, nunca se furtou a leituras atualizadas, sendo assinante, pelo que me lembro da minha infância, de revistas como Time, Life (que vinham pelo correio dos Estados Unidos), Manchete, O Cruzeiro e Visão, tornando-se depois assinante de Veja, até a atualidade. Quando em Urandi havia cinema, os proprietários eram moralmente obrigados a solicitar filmes que o meu pai indicava, tornando possível lá se assistir, pouco tempo depois de lançados, filmes clássicos como Os Girassóis da Rússia, a Megera Domada ou, no caso brasileiro, Tocaia no Asfalto e Mineirinho Vivo ou Morto, ao lado daqueles faroestes com trilha sonora de Morricone.
Por sua admiração declarada a J. F. Kennedy e à cultura dominante nos anos 1960, mereceu dos estudantes o apelido de “o americano”. Padres, missionários, empresários ou engenheiros de mineração que porventura residiram ou trabalham em Urandi por breve tempo, têm encontrado em Dr. Dantas um interlocutor dinâmico, apto a uma boa conversação em inglês e eleitor virtual de Obama, ainda mais porque em sua longa atenção à política norte-americana, nunca tolerou os republicanos.
Mas não pense que irá encontrar nessa prosa um defensor intransigente de assunto qualquer, de tal teoria ou causa. Irá achar, com prazer, um interlocutor vivo sobre qualquer assunto que não venha de ou acarrete problemas. Aí vale a situação do Esporte Clube Bahia, de quem é torcedor há oito décadas, a novela, o último escândalo político-financeiro, a crise, a vida dos outros. E, qual seja o assunto, nada vale se não for acompanhado de certa quantidade de riso e humor inteligente.
Uma vida longa e cheia de trabalho como esta pode servir, para pessoas de boa vontade, de link, de elo para diversos assuntos correlatos como, por exemplo:
A origem familiar nunca enfatizada. De como o meu avô Pedro Dantas nunca cultivou espécie nenhuma de laço com a família de origem. Ao contrário, ao se transferir de Itapicuru para Curaçá, já nas beiras do São Francisco, se dirigiu a um cartório e mandou retirar o Martins do nome, ficando apenas Pedro Dantas. Em Bonfim foi dono do cinema e comerciante de tecidos, e lá nasceram Dorivaldo e Dora.
Esta origem nos remete a investigar o próprio Sertão, o curioso fenômeno do baronato de Cícero Dantas, a construção do seu sonho de grandeza em meio à caatinga, a invasão da fazenda Canudos, pertencente a um seu genro, por Antônio Conselheiro e, por conseguinte, seu papel como incitador da Guerra de Canudos. As fotos da época nos inspiram a compreender o fenômeno das cidades clássicas, sua cultura idealizada e suas filarmônicas. Numa delas, a 15 de março, apelidada de “monarquia”, o meu avô tocou trompete.
Depois, a juventude de Dori em Salvador nos remete a uma efervescente vida urbana, em uma cidade de clima ameno, praças arborizada, cercada de florestas e roças estonteantes. A Rua Chile era o point. As Festas da Mocidade, a balada. Carlos Chiacchio era o intelectual, enquanto Zé Coió, era o grande e temido crítico de auditório. O Campo da Pólvora era dos namoros, a longínqua Itapoã, dos veraneios.
Sua convocação para o Exército, em plena II guerra Mundial, nos remete para um mundo em convulsão, o coração partido da noiva, o treinamento rigoroso. Patrulhas da costa brasileira, metralhadora ponto 40 sempre em alerta. Como meu pai se lamenta de ter metralhado uma baleia, na paranóia de um submarino alemão! Então vem o Fim da Guerra às vésperas do Embarque para a Itália. Depois, o mundo em festa, a formatura, o casamento afinal.
Sua participação na construção da Estrada de Ferro Norte-sul, um esforço de Guerra, se constitui num grandioso capítulo de heroísmo e obstinação, onde fulguram nomes como Vasco Neto, Dr. Mário Paula, Engenheiro Oscar... Essa estrada, cortando abismos e montanhas em tese intransponíveis, o levou a Urandi, onde permaneceu.
O exercício da medicina em uma cidade do interior, seus desafios, suas carências, seus momentos de poesia e reconhecimento por parte do povo, tudo isso será fonte de estudos ao se perscrutar a atividade profissional de Dr. Dantas. Ao solucionar casos desenganados nos grandes centros urbanos, tornou-se referência em São Paulo. Ao determinar em poucos minutos o mal, com o cabedal da experiência, criou fama de milagreiro, o que, aliás, detesta. Ao acudir com presteza à emergência, tornou-se médico pessoal de meio-mundo de gente. Ao saber de tudo um pouco, economiza exames de laboratório ao simples exame visual de uma pálpebra ou de uma língua. Isso cria mito e o mito foi criado, queira ou não o médico.
A fundação do Ginásio de Urandi foi um feito comparável, no terreno do pioneirismo cultural, a construir estrada de ferro sobre abismos. Junto a outros cidadãos notáveis da sua cidade, como Theodolindo, Tideca, Luis Gomes, Zé Brito, Tòzinho e outros Dr. Dantas se põe à frente de construir uma unidade de ensino referencial, com gestão independente das administrações municipal e estadual, e ao mesmo tempo não se configurando como ginásio particular. Seu ensino rigoroso e comprometido resultou em turmas e turmas de bem sucedidos profissionais, que até hoje agradecem e reconhecem a sólida formação adquirida no Ginásio de Urandi.
Não haveria como encerrar o presente texto se continuasse lembrar novas facetas do homem Dr. Dantas. Seu romance de 70 anos com sua gata, desculpem, a professora, Edith, e como criaram os filhos: Nádia, professora; Roberto e George, advogados e Fred, músico. O que fazem as filhas de consideração Dina, enfermeira, e Isaura, professora.
Depois, numa longa fila para lhe dar esse beijo de 90 anos, doutor, estão os diversos netos e agora bisnetos. Quando eles derem espaço, vêm os amigos do peito, companheiros de longa data, representados por Amaurílio e Sinhôda. Os próximos a lhe dar esse grande abraço são os moradores de Urandi, e também gente da roça, trazendo galinha, feijão verde, milho...
Depois vem toda a população do Sudoeste, gente de Guanambi, Caetité, Pindaí, Jacarací, Licínio de Almeida,e também de Espinosa e Monte Azul, já em Minas. Que fila enorme! Todos querendo apertar as mão de quem lhes tirou, abaixo de Deus, a dor, a preocupação, o medo e a doença. Afinal, meu pai, em certo momento a mão de Deus e as suas de certo modo se completam; acostumei-me a ler no vidro do seu carro o adesivo: sanare dolorem opus divinum est.
Efetivamente “já lhe falei de tudo, mas tudo isso é pouco diante do que sinto”. Falei tanto sobre doutor que deixarei para depois, em novo momento, para falar do meu pai, do orgulho que sinto em ser filho de Dr. Dantas, “Fred de Dr. Dantas”. De como me sentia e sinto ainda, forte e seguro quando estou junto a ele. Do exemplo de vida. Da firmeza de caráter. Do amor, finalmente, à vida, à natureza e à humanidade.
Salvador, Dezembro de 2008