terça-feira, 21 de agosto de 2007

A evolução cultural/Pierre Levy

(na época em que trocava emails com Pierre Levy, recebi esse texto em francês e traduzi trechos que considero importantes. Como é um texto grande, vou publicando aos poucos).

Apesar da globalização da informação, não existe um consenso planetário, ao contrário, a opinião é dividida entre os prós e os contras, os partidários e os opositores. É essa dinâmica conflitual que faz a opinião pública viva. O que unifica a opinião pública não são as idéias nem as posições políticas, mas seus objetos de atenção - guerras, catástrofes, eleições ou troca de regimes, os jogos olímpicos, as copas.
Para Marshall McLuhan há o desenvolvimento progressivo de uma consciência política global (ainda que conflituada) como fruto das mídias eletrônicas e todas as formas de interconexão: fluxo de pessoas, de mercadorias, de dinheiro, de técnicas.
A novidade da internet na mundialização da política reside, principalmente, na possibilidade para os movimentos de oposição ou para as organizações ativistas de se organizarem e de se coordenarem em tempo real em uma escala planetária. A verdadeira inovação consiste na flexibilidade e na facilidade dos processos de coordenação.
Não se tem mais necessidade de se organizar burocraticamente, hierarquicamente. Peter Waterman fala da passagem de um internacionalismo organizacional a um internacionalismo comunicacional.
Manifestações pontuais, organizadas em rede, demandam menos tempo e dinheiro e são mais eficazes. Manifestações contra a OMC, FMI, Banco Mundial, símbolos da "globalização selvagem neoliberal" são exemplos os mais impressionantes do nascimento de uma nova forma de ação política planetária. Juntam pessoas de todos os continentes, concernentes a sujeitos mundiais, organizados por intermédio do meio planetário por excelência que é a Internet.
Essas manifestações de "oposições planetárias" são, em perspectiva, a emergência de um proto-governo planetário. Sabemos perfeitamente que não existe, ainda, um governo planetário, mas ele pode ser vislumbrado em perspectiva porque a polarização política contemporânea indica o conflito entre um governo planetário e sua oposição, mas também porque mais e mais organismos internacionais deixam entrever uma tal virtualidade.
A OMC figura em todo tipo de "proto-ministério do comércio" de um governo mundial. O Banco Mundial e o FMI indicam futuros ministérios das finanças. O G8 e o G20, a Secretaria de um futuro Senado Mundial; a OMS, o embrião do Ministério Global de Saúde; A OIT, um Ministério Mundial de Questões Sociais; a Unesco, Ministério Mundial de Educação e Cultura. A Corte de Haia, uma Corte Superior planetária; Secretaria Geral da ONU - redução da violência e conflitos em grande escala e só um organismo internacional a dispor de uma força armada poderá representar o embrião de um ministério do governo mundial (um "interior" anormal, sem trabalhos exteriores) fiscaliza a execução de leis internacionais e/ou mantém a justiça à escala de relações entre os povos. Claro que o governo de uma futura federação mundial remanejará profundamente as instituições internacionais já existentes. E lhes dará, sobretudo, um fundamento democrático (transparência, obrigação de prestar contas, eleições livres, deliberação e controle à escala planetária) bem superior a estas de hoje.
(Segue segunda parte no próximo post).

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