sábado, 23 de fevereiro de 2008

A salvação pela Matemática

Pitágoras de Samos, outro coleguinha de Anax, transformou o "sentido da via da salvação": no lugar de Dionisio, a Matemática. A purificação resultaria do trabalho intelectual, que descobre a estrutura numérica das coisas e torna, assim, a alma semelhante ao cosmo, em harmonia, proporção e beleza.
Usando a lógica, há uma distância infinita entre o número 0 e 1, os quais podem ser divididos infinitamente. Percorrer esse infinito é tentar chegar perto de como o inexistente se torna existente.
A atualidade desse pensamento é fantástica, uma vez que Lacan passou seus últimos tempos escrevendo números e mais números no quadro, enlouquecidamente, já sem ter quem o acompanhasse... (informações sobre Lacan, de Elizabeth Roudinesco, autora de uma biografia definitiva).

Anax sobe ao poder

Nos meados do séc VI a.C., a chefia da escola de Mileto passa a Anax. Como todo bom discípulo, avança o pensamento do mestre Tales, e afirma que o princípio de todas as coisas é o ápeiron (infinito e/ou ilimitado), animado por um movimento eterno. Para Anax, ao longo do tempo, os opostos pagam entre si as injustiças reciprocamente cometidas.
Como passar do indetermindado para o determinado, ou do inexistente para o existente, do eterno para o temporal, do justo a injustiça? Segundo Nietzsche, "quanto mais procurava aproximar-se do problema, indagando-se sobre essas questões - maior se tornava a noite.
Minha noite, ainda que iluminada pela luz da sua vela (Anax só dorme de vela acesa), também tem se tornado imensa!

A Escola de Mileto, ou minha nova turma, do que o amor não é capaz...

Tales de Mileto

Graças a Anax, ando numa turma muito vip agora, são seus amigos que vou conhecendo aos poucos. Tales (final do sec VII e início do sec VI ac), o fundador da Escola de Mileto, do qual herdou o codinome, o mesmo de Anax (portanto vcs não duvidem de um dia eu assinar por aqui Christiana de Mileto, de tanto que estou casadinha com Anax).
Paixões à parte, gostaria de mostrar aqui hoje algumas idéias dos seus amigos, tchurma que inevitavelmente passei a frequentar.
Tales achava que a água era a origem de todas as coisas. Outra idéia linda de Tales é que "tudo está cheio de deuses", numa alusão laica de que o universo é dotado de animação, que toda matéria é viva.
Alguns filósofos contemporâneos, a exemplo do querido professor Luiz Isidoro (RJ), orgulham-se de não serem pensadores de origem, de não se interessarem por esse tema. Para eles, o que importa são os fluxos que atravessam o sujeito, deleuzianos até a medula, mas eu não, claro que me interessa a origem, poderia dizer que sou uma pensadora da origem. Se a gente não sabe de onde veio, como vai saber para onde vai?

outros autores/Antonio Negri e Michael Hardt



Aproveitando a relativa "folga" que Anax me deu, publico a resenha que recebi da Universidade Nômade e que me parece muito a calhar. Perspectivas otimistas à vista!

O conceito de Império, proposto por
Antonio Negri e Michael Hardt, definiu um
novo horizonte de reflexão sobre a crise
da modernidade. O léxico usado em
Império mobiliza os esforços de inovação
teórica e política de um conjunto de
autores (filósofos, sociólogos,
economistas) que, desde o início dos
anos 1990, problematizaram as noções
de trabalho, multidão, biopolítica,
comum, linguagem, potência. A proposta
desta coleção, organizada por Giuseppe
Cocco, é apresentar ao público brasileiro
essa bibliografia de grande interesse
para apreensão dos desafios da política
no império.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Hoje, não, Anax, estou com dor de cabeça.


Como já comentei aqui, Anaximandro (Anax, para os mais íntimos) não me dá sossego desde o Carnaval. Como é possível um homem se entranhar tanto na cabeça de uma mulher, a ponto de não lhe dar um momento de folga?
Hoje radicalizei. Disse-lhe que não posso dar-lhe atenção hoje, que tenho outras coisas para fazer na vida, além de só pensar em pré-socráticos e na "culpa de existir".
Impressionou-me muito a atualidade desse pensamento, e é por esse único motivo que dei tanta colher de chá para Anax. Como é que um cara pensa uma coisa dessas, lá antes de Sócrates, 610 a.C. - c. 546 a.C. e esse pensamento continua atual até para os mais modernos psicanalistas franceses que eu conheço? Charles Melman e Marcel Czermak, lacanianos atuantes e vivos, insistem nesse tema também, e eu fico me perguntando: tem culpa eu?

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Circuito ultra mega vip



Vejam vocês como são as coisas: eu planejava passar um carnaval sossegado no ultra mega vip circuito Amaralina - Vilas do Atlântico, quando fui abruptamente interrompida por Anaximandro. Para quem não está ligando o nome à pessoa, é um dos pré-socráticos que postularam a "culpa de existir", depois apropriada por Freud, que não era besta coisa nenhuma.
Eu nunca quis muito papo com os pré-socráticos e achava que fazia muito bem de cuidar de Sócrates pra cá, que já tava de bom tamanho. Negócio de "pré" sempre me remetia ao pré-primário, uma escola café com leite. Mal sabia eu que Anaximandro tinha essa importância toda. Resultado: voltei ao jardim de infância da filosofia, que como todo jardim tem suas cobras bem escondidas prontas para dar o bote. Todo cuidado é pouco pra mexer com esses caras.

Mataram Negão!

O posto Shell de Amaralina e seus assíduos frequentadores, entre os quais me incluo, estão de luto.
Negão, o ex-rasta e segurança do posto foi executado ontem, com um tiro no ouvido, no Vale das Pedrinhas. Causa mortis? "Rexa antiga" me responderam uns três. Desconhecia essa palavra, talvez seja mesmo necessário um nelogismo, quando a linguagem não mais dá conta do trágico. Então, senhores linguistas de plantão, a palavra agora é "rexa" e não "rixa" como vocês aprenderam em tempos de criança.
Já contrataram um substituto, afinal a vida continua, enquanto Negão era enterrado às 3 da tarde deste domingo.
"Ah que tempo mais vagabundo este que escolheram pra gente viver!".

Elegia




Ateneu que me desculpe, mas a minha festa foi melhor. Com certeza ele não contava com a existência de uma pequena fogueira para acalentar a alma, agora atrelada às rochas da minha libertação. Além de uma linda mesa de frutas...
Como me desejou meu amigo Fred Dantas, "saúde, sossego e liberdade". Pra que mais nada?
Obrigada aos 28 amigos que se despencaram de suas casas, cheios de cinzas, para abrilhantar a minha fogueira. Aos que não puderam comparecer, a minha saudade. Nunca estão todos, como diz Caetano em "Uns".

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Dia de festa


Há uma festa por aqui, apesar da quarta-feira de cinzas.
Para Bandeira, restou uma cinza fria, uma pouca cinza fria.
Para mim, há uma pequena fogueira incandescendo a minha alma, que insiste em viver abraçada à solidão dos séculos.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Outros poemas/Ateneu, X 462 C.

Agora o chão da casa está limpo, as mãos de todos
e as taças; um cinge as cabeças com guirlanda de flores,
outro oferece odorante mirra numa salva;
plena de alegria, ergue-se uma cratera,
à mão está outro vinho, que promete jamais falar,
vinho doce, nas jarras cheirando a flor;
pelo meio perpassa sagrado aroma de incenso,
fresca é a água, agradável e pura;
ao lado estão pães tostados e suntuosa mesa
carregada de queijo e espesso mel;
no centro está um altar todo recoberto de flores,
canto e graça envolvem a casa.
É preciso que alegres os homens primeiro cantem os deuses
com mitos piedosos e palavras puras.
Depois de verter libações e pedir forças para realizar
o que é justo - isto é que vem em primeiro lugar -
não é excesso beber quanto te permita chegar
à casa sem guia, se não fores muito idoso.
É de louvar-se o homem que, bebendo, revela atos nobres
como a memória que tem e o desejo de virtude,
sem nada falar de titãs, nem de gigantes,
nem de centauros, ficções criadas pelos antigos,
ou de lutas civis violentas, nas quais não há nada de útil.
Ter sempre veneração pelos deuses, isto é bom.

Criança defende a vida no planeta Terra


(por algum dos insondáveis motivos da informática, não consigo publicar o vídeo, mas vai o texto assim mesmo. Tentarei depois).
Maria Ely Camargo enviou-me esse vídeo que repassei para alguns amigos. Hoje recebo de Humberto Guanais a completa tradução do discurso (NA ECO 92). Hoje ela está com 29 anos, continua militante.
"Olá! Eu sou Severn Suzuki. Represento, aqui na ECO, a Organização das Crianças em Defesa do Meio Ambiente. Somos um grupo de crianças canadenses, de 12 e 13 anos, tentando fazer a nossa parte, contribuir. Vanessa Sultie, Morgan Geisler, Michelle Quigg e eu. Foi através de muito empenho e dedicação que conseguimos o dinheiro necessário para virmos de tão longe, para dizer a vocês, adultos, que têm que mudar o seu modo de agir. Ao vir aqui, hoje, não preciso disfarçar meu objetivo: estou lutando pelo meu futuro. Não ter garantia quanto ao meu futuro não é o mesmo que perder uma eleição ou alguns pontos na bolsa de valores. Estou aqui para falar em nome das gerações que estão por vir. Estou aqui para defender as crianças que passam fome pelo mundo e cujos apelos não são ouvidos. Estou aqui para falar em nome das incontáveis espécies de animais que estão morrendo em todo o planeta, porque já não têm mais aonde ir. Não podemos mais permanecer ignorados! Eu tenho medo de tomar sol, por causa dos buracos na camada de ozônio. Eu tenho medo de respirar este ar, porque não sei que substâncias químicas o estão contaminando. Eu costumava pescar em Vancouver, com meu pai, até que, recentemente, pescamos um peixe com câncer. E, agora, temos o conhecimento que animais e plantas estão sendo destruídos e extintos dia após dia. Eu sempre sonhei em ver grandes manadas de animais selvagens, selvas e florestas tropicais repletas de pássaros e borboletas. E, hoje, eu me pergunto se meus filhos vão poder ver tudo isso. Vocês se preocupavam com essas coisas quando tinham a minha idade? Tudo isso acontece bem diante dos nossos olhos e, mesmo assim, continuamos agindo como se tivéssemos todo o tempo do mundo e todas as soluções. Sou apenas uma criança e não tenho todas as soluções; mas, quero que saibam que vocês também não as têm. Vocês não sabem como reparar os buracos na camada de ozônio. Vocês não sabem como salvar os peixes das águas poluídas. Vocês não podem ressuscitar os animais extintos. E vocês não podem recuperar as florestas que um dia existiram onde hoje há desertos. Se vocês não podem recuperar nada disso, por favor, parem de destruir! Aqui, vocês são os representantes de seus governos, homens de negócios, administradores, jornalistas ou políticos; mas, na verdade, vocês são mães e pais, irmãs e irmãos, tias e tios. E todos, também, são filhos. Sou apenas uma criança, mas sei que todos nós pertencemos a uma sólida família de 5 bilhões de pessoas; e que, ao todo, somos 30 milhões de espécies compartilhando o mesmo ar, a mesma água e o mesmo solo. Nenhum governo, nenhuma fronteira poderá mudar esta realidade. Sou apenas uma criança, mas sei que esses problemas atingem a todos nós e deveríamos agir como se fôssemos um único mundo rumo a um único objetivo. Estou com raiva, não estou cega e não tenho medo de dizer ao mundo como me sinto. No meu país, geramos tanto desperdício! Compramos e jogamos fora, compramos e jogamos fora, compramos e jogamos fora… E nós, países do Norte, não compartilhamos com os que precisam. Mesmo quando temos mais do que o suficiente, temos medo de perder nossas riquezas, medo de compartilhá-las. No Canadá, temos uma vida privilegiada, com fartura de alimentos, água e moradia. Temos relógios, bicicletas, computadores e aparelhos de TV. Há dois dias, aqui no Brasil, ficamos chocados quando estivemos com crianças que moram nas ruas. Ouçam o que uma delas nos contou: "Eu gostaria de ser rica; e, se o fosse, daria a todas as crianças de rua alimentos, roupas, remédios, moradia, amor e carinho". Se uma criança de rua, que nada tem, ainda deseja compartilhar, por que nós, que tudo temos, somos ainda tão mesquinhos? Não posso deixar de pensar que essas crianças têm a minha idade e que o lugar onde nascemos faz uma grande diferença. Eu poderia ser uma daquelas crianças que vivem nas favelas do Rio. Eu poderia ser uma criança faminta da Somália, ou uma vítima da guerra no Oriente Médio; ou, ainda, uma mendiga na Índia. Sou apenas uma criança; mas, ainda assim, sei que se todo o dinheiro gasto nas guerras fosse utilizado para acabar com a pobreza, para achar soluções para os problemas ambientais, que lugar maravilhoso a Terra seria! Na escola, desde o jardim da infância, vocês nos ensinaram a sermos bem-comportados. Vocês nos ensinaram a não brigar com as outras crianças, a resolver as coisas da melhor maneira, a respeitar os outros, a arrumar nossas bagunças, a não maltratar outras criaturas, a dividir e a não sermos mesquinhos. Então por que vocês fazem justamente o que nos ensinaram a não fazer? Não esqueçam o motivo de estarem assistindo a estas conferências e para quem vocês estão fazendo isso. Vejam-nos como seus próprios filhos. Vocês estão decidindo em que tipo de mundo nós iremos crescer. Os pais devem ser capazes de confortar seus filhos dizendo-lhes: "Tudo vai ficar bem, estamos fazendo o melhor que podemos, não é o fim do mundo". Mas, não acredito que possam nos dizer isso. Nós estamos em suas listas de prioridades? Meu pai sempre diz: "Você é aquilo que faz, não o que você diz". Bem… O que vocês fazem, nos faz chorar à noite. Vocês, adultos, dizem que nos amam… Eu desafio vocês: por favor, façam com que suas ações reflitam as suas palavras. Obrigada!"

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Descobrindo Gero


De todas as coisas boas que aconteceram em SP a melhor de todas foi, sem dúvida, ter conhecido Gero. Como já disse, ganhamos uns convites sem nenhuma referência, e lá fomos nós para o teatro Tuca ver "Aldeotas" com Caco Ciocler (que pela excelente atuação no filme Olga, no papel de Prestes, merecia todos os créditos) e Gero Camilo. Pela foto do convite sabia q o conhecia, mas não sabia direito de onde, ao q me responderam: "Ele faz muito filme nacional, Carandiru, Bicho de Sete Cabeças, aquele do beijo na boca de Rodrigo Santoro"... e eu: "Sei...", sem coragem de assumir que não tinha visto nenhum dos dois filmes.
Resultado: o texto era de Gero Camilo, o protagonista era Gero Camilo e, para completar, Gero Camilo estava lançando um CD no fim do espetáculo. Claro q comprei (a prova é essa foto do autógrafo) e vou presentear pessoas sensíveis com uma copiazinha pirata feita em casa, Gero q me perdoe.
Perguntado sobre se iria viajar com a peça, Ciocler respondeu: "Bem que gostaríamos, mas não temos dinheiro"... Êta terrinha! Coisa de qualidade não tem patrocínio. Uma peça baratíssima, dois atores, nenhum cenário, facílima de ser levada para qualquer lugar e falta dinheiro...


A obra dele é tão original e profunda q me fez lembrar Manoel de Barros, o poeta pantaneiro. A peça é poesia pura e o cd, músicas dele e com parceiros, um canto de esperança.

Chegança


São Paulo aos meus pés

Ter chegado ao Brasil via São Paulo por quatro dias foi a melhor coisa que poderia ter feito. Seria um choque grande demais desembarcar nessa desgovernada Bahia depois de ter passado por lugares turísticos que se respeitam e que respeitam os turistas principalmente.
São Paulo foi um arrefeço merecido. Os quatro dias renderam muito, pois estávamos muito bem assessorados por duas baianas que moram em SP, com uma carinhosa hospedagem.
Resumindo: primeiro dia: uma deliciosa pizza no Santa Pizza (Vila Madalena), lugar super charmoso, preços honestos, nota mil. Coisa q vc não vê em Salvador, se é razoável, é proibitivo. De lá, nossas anfitriãs estavam com todo o gás, fomos ao Genésio e à Filial, um em frente ao outro, encontramos amigos baianos, ganhei um "calendário do Genésio" de presente de Vlad, um baiano em SP há 20 anos. Saímos de lá 5 da manhã. Dia seguinte, aniversário da cidade, todo mundo morto de ressaca, fomos almoçar na Paulista e casa. No sábado, depois da feirinha da Benedito Calixto, tínhamos ingressos para "Às favas com os escrúpulos", texto de Juca de Oliveira, com ele e Bibi Ferreira no elenco, no teatro Raul Cortez. Excelente. Pensam q as nossas anfitriãs quiseram vir pra casa? Nada, já tinham decidido ir ao "Grazie a dio", local de black music da melhor qualidade. Outra noitada.
Domingo ganhamos ingressos no Genésio para uma peça no teatro Tuca. Fomos sem nenhuma outra referência além da presença de Caco Ciocler no elenco. Ele e um tal "Gero Camilo". Mas isso já é notícia para um outro post.