sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Montevidéu, um lugar de paradoxos




Montevidéu foi uma estranha surpresa. Foi a minha primeira vez, estranhamentos são naturais, porque narciso acha feio o que não é espelho, como já dizia Caetano a respeito da sua primeira impressão sobre São Paulo. Ficamos no Centro, próximos à Cidade Velha, muitos monumentos com cavalos, são fixados em militares sobre cavalos, cada praça tem um. Por falar em cavalos, ouvimos durante toda a noite trotes de cavalos pelo asfalto, achei q estava sonhando, eram os catadores de lixo que usam carroças puxadas a cavalo. Ecologicamente corretíssimo, ja que não polui e ao mesmo tempo recolhe o lixo reciclável, bem mais seguro do que aqueles imensos carros de mão de Salvador, mas estranho, muito estranho. Tem carroças de todo tipo, cavalos enfeitados, uma loucura. A chegada foi pela rodoviária, já que viemos de Buenos Aires para Colonia, de Buquebus, como chamam a empresa q faz a conexão barco x ônibus.
A Avenida 18 de Julho, onde estávamos hospedados, é imensa e corta um importante trecho da cidade, ligando o Centro ao lado mais moderno, aí sim, tem-se a impressão q se está numa capital.
A orla do rio da Prata é de dar inveja aos baianos, já que João Henrique conseguiu estragar o que a natureza fez com capricho em Salvador. Um calçadão enorme, que chamam de Ramblas, onde se passeia de bicicleta, se faz cooper, mas o rio mesmo, coitados, uma areia na maior parte escura e a água barrenta.
Por falta de informação saímos no dia em que iria começar o maior carnaval do mundo, dia 24 à noite, viajamos 24 à tarde, mas com passagens já acertadas nem nos atrevemos a mexer. O carnaval começa em janeiro e vai ate março, com arquibancadas nas ruas como pequenos camarotes para um grupo de 6 a 8 pessoas. Viajamos hoje, 24 para São Paulo e já caímos na esbórnia paulista, ficando até 5 da manhã na farra. Amanhã, quer dizer, hoje beeeem mais tarde, pretendemos ir à Pinacoteca para uma exposição de Tarsila, às 11 tem o coquetel de abertura, mas é realmente impossível acordarmos nesse horário. Veremos o q será possível fazer nessa paulicéia desvairada.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Atualizando...

Por incrível q pareça, Buenos Aires foi o lugar em q tive mais dificuldade de internet. Nao q faltassem locutorios por toda a parte, mas pq no hotel nao tinha serviço e eu já estava acostumada a postar antes de dormir contando as novidades do dia. Resultado: qdo resolvi fazer isso no último dia, ir a um serviço de internet, estavam sem conexao.
É a terceira vez q vou a "Mi Buenos Aires querido" como diz o velho tango. O velho e bom hotel Novel, na avenida de Mayo, nos aguardava com vaga, sem reserva. Logo depois lotou, foi uma sorte ter conseguido. Passeios a San Telmo, a Florida, ao Delta do Paraná pelo Tren de la Costa, e até uma ida ao teatro Astral, onde estavam encenando Cabaré, muito bom.
No domingo pegamos um barco para Montevideu, com conexao de onibus em Colonia. Aqui tambem escurece muito tarde, o q atrapalha a percepçao do tempo. Até chegar ao hotel (conseguido no escuro, na rodoviaria) já era noite, apesar de ainda claro. Ontem nao fizemos nada, além de sair para comer algo e dar uma volta na Praça Fanini q fica aqui perto, no centro novo (pq tem o centro velho). Hoje vamos "ramblar" na orla, passeando na ciclovia de bicicleta. Hasta la vista!

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Vamos a la playa!

Hoje foi o dia da indefectível visita às praias do Pacífico: Viña del Mar e Valparaíso. Nada muito diferente de quando estive aqui, em 2000, mas é sempre um prazer visitar este "puerto loco" a "este disparate" de ciudad, como diz Neruda, acrescentando que "si caminamos todas sus escaleras, habremos dado la vuelta al mundo" referindo-se a Valparaíso, onde tinha uma casa, além das outras duas, em Santiago e Isla Negra. Na de Santiago, podemos testemunhar a amizade do poeta com Jorge Amado e Vinícius, com fotos no Mercado Modelo e troca de amabilidades entre eles.
Temos muitas fotos, mas nao estou conseguindo postar daqui, farei isso com mais calma do meu lap top q eu conheço melhor.
E a visita a Santiago continua amanha, nosso último dia aqui, qdo pretendemos ir ao Mercado Central comer lagosta, que araruta também tem seu dia de mingau!

domingo, 13 de janeiro de 2008

Cultura e arte fazem a festa em Santiago

Está acontecendo aqui o "Santiago a mil", um festival internacional de teatro, com peças por todos os lados, em praças e locais fechados. Sem contar as inúmeras salas de teatro que vemos em muitos lugares, além dos teatrinhos de rua, tudo muito profissional, com muita tecnologia, projeçoes, fantastico! Depois (esses do teatro de rua) saem com o chapeuzinho pedindo contribuiçoes ao publico e sobrevivem assim. É de dar inveja!

Notícias da viagem

Cheguei hoje a Santiago, depois de quatro dias no deserto. San Pedro de Atacama é um lugar mágico, surpreendente. Acho que todo mundo já disse isso, mas nao posso evitar o lugar comum. Mais noticias da viagem, em breve, de preferência com imagens, que ainda nao consegui postar.
O primeiro choque foi com o câmbio. Imaginem que com um real pode-se comprar 256 pesos chilenos. Isso enloquece qualquer um: um café expresso custa 800 pesos, e um nescafé descarado custa 300 pesos. E diz o jornal tradicional daqui, El Mercurio, que o peso chileno foi a moeda que mais se valorizou frente ao dólar. Eles devem estar certos, mas nao é essa a impressao que fica.
Santiago respira cultura. Asistimos hoje, meio sem querer, uma estonteante apresentaçao teatral na Praça do Palácio de la Moneda, de triste memória para os chilenos. Clara alusao à invasão do Palácio, representada por estruturas metalicas imitando as portas do palacio, em chamas. O grupo convidado era da Polônia e a peça se chamava "A Arca". Isso fazia parte, viemos a saber depois, do "Santiago a Mil", onde pode-se assistir, durante todo o mês de janeiro, a Mil (isso mesmo, mil!) espetáculos de teatro, dança, música, cinema, palestras, museus, enfim, mil eventos culturais.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Direto do deserto de Atacama!

Estou em uma lan house do meio do deserto de Atacama - Chile. Definitivamente, nao se fazem mais desertos como antigamente. Imaginem, uma lan house no meio do deserto? Entrarei nos proximos dias com imagens, se tudo correr bem com a maquina digital.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

E la nave va!



Lá vamos nós para 2008, catando os caquinhos do que foi esse ano que passou, balanços das nossas vidas, planos para o novo ano que chega... Final de ano é sempre essa hora de repensarmos o rumo das nossas barcas, mudança de rotas, desvios, atalhos, sempre a ilusão da possibilidade de um recomeço, como se nossas vidas estivessem atreladas a calendários vãos. Apesar de boa parte da humanidade não considerar essa data o fim de um ano, para nós é sempre uma hora de acerto de contas. Então vamos nessa! Sem retrospectivas, por favor, que disso se encarregam os medíocres meios de comunicação. O "cacos" compartilha com seus amigos fé no futuro. Coisa difícil, quando lembramos que teremos pela frente um cansativo ano eleitoral, com as ridículas disputas de podres poderes. Quase impossível ficar imune a isso, por mais que se tente. Ainda assim, fé no futuro que virá, que já vem vindo, como "anuncia" Alceu Valença:

Na bruma leve das paixões
Que vem de dentro
Tu vens chegando
Pra brincar no meu quintal
No teu cavalo
Peito nu, cabelo ao vento
E o sol quarando
Nossas roupas no varal...
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais...
A voz do anjo
Sussurrou no meu ouvido
Eu não duvido
Já escuto os teus sinais
Que tu virias
Numa manhã de domingo
Eu te anuncio
Nos sinos das catedrais...
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais...


E um pouco de Drummond, que ninguém é de ferro:


Receita de ano novo

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido (mal vivido talvez ou sem sentido)para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas (a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens? passa telegramas?)
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar que por decreto de esperança a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.

Um grande 2008 a todos! Façamos por merecê-lo.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Festival Internacional de Palhaços

Não poderia deixar de registrar aqui o Encontro Internacional de Palhaços "Anjos do Picadeiro", grande evento que este ano escolheu Salvador como sede.
Mais detalhes, fotos e comentários no http://picadeiroquente.blogspot.com/
Bom divertimento a todos os que não puderam comparecer. Foi uma grande jornada, com direito a 12 horas ininterruptas de apresentações. Muito bom!

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007


Fui à premiação do Festival de 5 minutos, versão 2007, produzido pela DIMAS. O resultado, sempre questionado por alguns, teve menções honrosas e prêmios que variaram entre 3 e 10 mil reais. Graninha boa para quem normalmente rala muito para produzir alguma coisa de qualidade nesse país de tão pouco incentivo à cultura. Destaque para "Foram todos pra lua", "Veras", "Meninos", "Passo" (brilhante animação), "Pega, Mata e Come", de Carlos Pronzato, fazendo a devida justiça sobre o verdadeiro autor de Carcará, imortalizado na insuperável interpretação de Betânia. É senso comum atribuir-se a João do Vale a autoria, mas esse filme esclarece qualquer mal-entendido: o verdadeiro autor de "Carcará" é José Cândido da Silva, nascido em Puxinanã, povoado de Santana de Ipanema, nas Alagoas, mas criado em Aracaju, onde viu nascer seus filhos, e onde voltou a viver, depois de aposentado e de consagrar-se, no Rio de Janeiro, como autor de diversos sucessos musicais, alguns dos quais em parceria com o maranhense João do Vale, o que não foi o caso de "Carcará": José Cândido é o único autor de um clássico dos anos de chumbo, interpretado por Nara Leão e por Maria Betânia no espetáculo Opinião, um dos mais assistidos e aplaudidos da década de 1960, e que revelou a própria Betânia, o compositor Zé Keti e outros valores da MPB.
Pois bem, Pronzato, um cineasta argentino radicado na Bahia, foi quem, em 5 minutos, acabou de vez com esse equívoco assumido por muita gente que se diz entendida de MPB. Abocanhou um justíssimo terceiro lugar e o prêmio de 6 mil reais. Parabéns, Pronzato, o júri fez justiça, o que não podemos dizer do primeiro lugar, "Carro de boi", um documentário pouco criativo e que levou 10 mil reais. Mas festival é assim mesmo, subjetividade de jurado é igual a cabeça de juiz e de eleitor. Ninguém sabe o que virá.
O troféu, criado pelo artista plástico Peter Gutman, era uma alusão a um fêmur humano, referência ao homem de Neanderthal e a "2001: uma odisséia no espaço".

Parabéns aos ganhadores e a todos os 285 participantes de todo o Brasil.

Oscar para sempre Niemeyer


Parabéns, grande mestre do sublime e do espanto! 100 anos de puro encantamento!

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

O dia em que o Brasil foi invadido

Rir sempre é o melhor remédio

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Carandiru, Pará e Fonte Nova


implosão do Carandiru
Agora é moda: se algo muito escabroso acontece em um determinado lugar, a exemplo da chacina do Carandiru, da prisão de uma menor com homens na cela ou do desabamento de uma arquibancada na Fonte Nova, não pensem duas vezes senhores: implosão já! Essa é a lógica perversa que aqui já está virando rotina.
Todo mundo sabe das precaríssimas condições dos presídios brasileiros, com presos amontoados como bichos, com três ou quatro vezes o número humanamente planejado. Pois então, depois daquele escândalo do Carandiru (alguém ainda se lembra?) qual a solução encontrada pelas autoridades? Implodir o prédio, como se as paredes, a construção em si fosse responsável pelo desmantelo. Ou seja, agrava-se o problema de falta de cela para presidiários, descartando uma prisão de grande porte, para aliviar a consciência (ou enganar os trouxas, o que é a mesma coisa) de quem deveria estar ali administrando bem.
No Pará, a mesma coisa agora: um "débil mental" (foi como o delegado, já afastado, chamou a menina) prende uma menor com vários homens. Foi violentada, agredida, até que um ex-detento, que esteve com ela na cela, saiu e conseguiu a sua certidão de nascimento, provando que tinha apenas 15 anos. Solução? Implodir a delegacia!
O caso da Fonte Nova não escapa da lógica do "vamos implodir", como se isso deletasse a responsabilidade dos que autorizaram um jogo decisivo, estádio lotado, sem condições de uso. Essa possibilidade da implosão como mais barata que uma restauração já estava anunciada mesmo antes da tragédia. Gostaria de ver algum parecer técnico sobre isso. Imaginem: implosão, escombros, retirada de entulho (pensem que quantidade assombrosa de entulho), construção de um novo estádio... Tudo isso de olho numa remota possibilidade de a Bahia sediar algum joguinho secundário da Copa do Mundo. Será que não se tem tecnologia hoje para uma restauração segura e mais barata? Ou é melhor entrar na onda nacional mesmo e implodir para ajudar a passar uma borracha no mal feito?
A propósito, ler o Licuri "Borrachoterapia". Ingresia e Galinho também estão dando um tratamento muito sério ao tema.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Ressaca da tragédia anunciada


Foto agência Estado

"Enfim quem paga o pesar
do tempo que se gastou
das vidas que se custou
e das que podem custar?"

Infelizmente, aqui, ninguém paga essa conta. E mesmo que pagassem, isso não traria de volta as vítimas dessa tragédia mais que anunciada. Visitando hoje vários blogs, todos são unânimes num ponto: a irresponsabilidade do Estado em permitir um jogo decisivo num estádio condenado há um ano! Não dá pra alisar: o que ocorreu ontem na Fonte Nova foi o assassinato de sete pessoas (ainda poderia ser muito mais se o pênalti não fosse desperdiçado). Visitem o Licuri, Ingresia, Blog do Galinho, blog do Kfouri e vocês verão o sentimento geral de indignação e tristeza que tomou conta da Bahia. Solidariedade irrestrita às famílias das vítimas! Responsabilização penal aos culpados! (se vivêssemos em outro mundo).

Museu du Ritmo e a tragédia da Fonte Nova


Fui ao show de Carlinhos Brown nesse domingo, primeiro para ver aquele ambiente funcionando, já q só o tinha visitado vazio. O espaço é fantástico, inovador, com um palco no meio da "pista", o que permite às pessoas verem o show de qualquer posição. Muita criativadade na decoração do palco, arrasou com um convidado angolado "Dog" que veio ensinar os baianos a dançar o cuduro. Muito bom! Em parelelo, a galeria apresenta uma exposição de artistas plásticos baianos, digna de ser vista com calma, fica até dezembro.
Junto à festiva noite, tomei conhecimento da tragédia da Fonte Nova. Sete mortos até agora! Muitos feridos! Segundo o Sindicato da Arquitetura e da Engenharia - Sinaenco, o estado de abandono da Fonte Nova é dramático. Lamentável, como sempre aqui ninguém cuida de manutenção, espera morrer gente para acordar para o problema. Segundo um encontro de Arquitetos e Construtores, o Enaeco, que ocorrerá em 30 de novembro,"o evento insere-se no conceito adotado pelo setor de arquitetura e engenharia consultiva de que é necessário pensar antes para fazer melhor, ou seja, planejar com antecedência para evitar problemas, como os que infelizmente vimos acontecer nas obras para a realização dos Jogos Pan-Americanos, em julho, no Rio de Janeiro”, explica José Roberto Bernasconi, presidente do Sinaenco, sobre as obras para 2014.
A Fonte Nova foi alvo ainda de uma ação civil pública ajuízada no ano passado pela promotora Joseane Suzart no Ministério Público Estadual, que pedia a interdição do estádio, e de um relatório do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia que apontava a praça esportiva como a pior do Brasil.
Aguardemos! O "cacos" não vai descansar enquanto não desistirem dessa insanidade de demolir a Fonte Nova, para implantarem algum projeto faraônico com o único intuito de sediar alguns jogos da Copa. Temos muitas outras prioridades, nosso Estado é pobre, índices de IDH entre os mais baixos do país e não podemos nos dedicar a uma sandice dessas.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Fernando Pessoa/Maria Bethânia - Ultimatum


Ando um pouco abatida desde que postei aqui sobre a Copa do Mundo no Brasil, antevendo o escândalo em termos de gastos descontrolados, porta aberta para as velhas fralcatruas de sempre e me deu um desânimo... Um amigo lusitano contou-me que Portugal sediou a Copa Europa em 2004 e até hoje os estádios estão lá, totalmente ociosos. Pois essa poesia de Fernando Pessoa, com o heterônimo de Álvaro de Campos, 1917, tragicamente atual e lindamente recitada por Betânia deu-me um certo ânimo, ainda que puramente simbólico, e, como ele, eu também dou o meu "ultimatum". Ainda que simbolicamente, é para isso que serve a arte, afinal.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

A copa de 2014


charge de André Gonçalves

Pode ser que eu seja muito ranzinza, mas fiquei indignada com a escolha do Brasil para sediar a copa de 2014. Primeiro, aquela pataquada da comitiva: de Paulo Coelho a uma "ruma" de governadores (será que não tinham nada mais importante a fazer do que engrossar uma comitiva para farrear na Europa?);
Depois o patético discurso de Paulo Coelho (até hoje eu não acredito que seja o mesmo "Dom Paulete" tão carinhosamente chamado por Raul) comparando o futebol com o ato sexual, para concluir que o primeiro rende mais prazer, se é que eu entendi direito. Minha santa mãe de misericórdia! Será que metáforas futebolísticas são o nosso melhor destino?
Mas vamos ao ponto: todo mundo viu o que se gastou com o PAN (quatro vezes o orçamento inicial previsto). Nenhuma matemática do mundo pode justificar um desatino desses. Todo mundo sabe que se gasta numa pequena reforma doméstica 1,5 ou até 2 vezes mais do que foi previsto, mas mais do que isso, alguém está levando vantagem. Ou somos todos idiotas. Aí se argumenta que os gastos com o PAN são benefícios que ficarão para a cidade, como o uso dos estádios para maior democratização dos usuários. Gostaria de saber se isso está acontecendo no Rio. E, parece castigo, esse vexame do deslizamento do túnel. Do jeito que a coisa aconteceu, todo mundo se eximindo de suas responsabilidades, poderia ter acontecido durante o PAN que ninguém tinha antevisto isso, com medidas preventivas de contenção da encosta. Elementar, mas tudo aqui é assim, quando acontece o absolutamente previsível diante do desmando, todo mundo tira o seu da reta. E fica por isso mesmo. Impunidade, seu nome é Brasil! zil! zil! zil!
E vamos comemorar, porque a copa de 2014 é nossa! "Seus problemas acabaram!" como costuma brincar a turma do Casseta. Nada mais nos importa, nada nos atinge, vamos sediar a copa!
Deveríamos ficar atentos com o orçamento que vai nos custar mais essa "brasileirada" e que reais benefícios isso vai nos trazer.
Até agora (tá bom, também foi hoje o resultado, pode ser que esteja errada, tomara!) não ouvi uma única voz refletir sobre o tema, só festa. Como sempre.

Nietzsche, sempre um alento!



Acima de nós uma estrela brilha perto da outra,
Em torno de nós ruge a eternidade. (do poema Colombo - Nietzsche)

"Suas idéias mostram que ela se aventurou até os confins extremos do que se pode pensar, no domínio moral como no intelectual, enfim: um gênio, tanto pelo espírito quanto pela alma" (Peter Gast, sobre Lou Salomé)

Para Nietzsche, Gast era um novo Mozart, cheio de beleza, calor, serenidade, plenitude, abundância de invenção. Agora ele não queria mais ouvir outra coisa e o wagnerismo lhe parecia pobre, artificial e cabotino.

Outrora eu tomei você por uma visão e uma aparição do ideal sobre a terra. Note: tenho uma vista muito ruim. (Nietzsche, sobre Lou)

Despudorada, infiel, traindo qualquer um com quem quer que surgisse à sua frente, ela é incapaz de delicadeza de coração, violenta, incerta, sem coragem, grosseira nas questões de honra. (Nietzsche, sobre Lou)

"Não fui eu quem criou o mundo, nem Lou. Se eu tivesse criado Lou, lhe teria dado certamente uma saúde melhor, mas sobretudo coisas mais importantes que a saúde e também talvez um pouco de amor por mim (embora isso não seja a coisa mais importante). (Nietzsche, numa carta que supostamente mandaria a Lou)

Egoísmo sagrado que paralisa a boa vontade - egoísmo de gato que não pode mais amar, essa vitalidade para nada, são o que me é mais odioso no homem

"Um homem meio louco, torturado por enxaquecas e que uma longa solidão desregulou" (o que Nietzsche achava que os amigos pensavam dele).

É muito mais difícil perdoar os amigos do que os inimigos.

Falar de heroísmo é falar de sacrifício e de dever, e precisamente de um dever de cada dia, de cada hora, é pois, falar de muito mais: a alma inteira deve estar ocupada por um único objeto, em comparação com o qual a vida e a felicidade são indiferentes.

Era a ocasião de provar a si mesmo que todos os acontecimentos são úteis, todos os dias santos e todos os homens divinos. (N. em carta a Overbeck, no Natal, rompido com a mãe)

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Porque hoje é lua cheia




A lua cheia derrama todo o seu encanto no mar de Amaralina e (mistério!) continua cheia...

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

A loucura da arte de Peter Greenaway



Com a trilogia "As valises de Tulse Luper", Greenaway alcança o limite do improvável, do absurdo, do genial. A partir da vida de Luper, um eterno prisioneiro, conta-nos toda a história do século XX. Luper não se sentia estranho sendo prisioneiro, afinal, dizia ele, quem não é? Todos somos prisioneiros de alguma coisa, alguma pessoa, algum ideal. Ninguém é livre, esse é o pressuposto de Luper, um arquivista, arqueólogo e interessado em ciências naturais, que tem sua vida dissecada a partir de 92 valises. Do país de Gales para o deserto de Utah, EUA, para a Antuérpia, Bélgica, para a França, lá vai Luper, de prisão em prisão, de fronteira em fronteira, de idioma em idioma, vivendo tudo o que a vida tem para ser vivida. Esse trailler é uma pequena amostra do fantástico trabalho de direção de Greenaway. Vamos torcer para que chegue logo em DVD ou no circuito alternativo, já que a exibição na Walter da Silveira ficou prejudicada sem o último filme por motivos técnicos.

No http://adrulez.blogspot.com/ esse comentário atualíssimo, da recente presença de Greenaway no Brasil:

"Em São Paulo, onde esteve para o lançamento do Festival Internacional de Arte Eletrônica, o diretor brindou o público com cenas fortíssimas e reflexões inteligentes a céu aberto. E provou que existem muitas formas de se contar uma história sem precisar recorrer à cronologia, ao linear, e o mais impressionante: às palavras."

Segundo o cineasta, que já foi pintor: "O cinema como meio de comunicação de idéias está morto. A produção contemporânea é entediante. Em 10 minutos de filme já se sabe o que vai acontecer, como vai acontecer e de que forma vai terminar. A psiquê humana precisa de novidades. O cinema precisa desesperadamente ser reinventado, assim como qualquer mídia tem que se reinventar (...) Esses 112 anos foram apenas o prólogo do cinema."
Peter Greenaway
Mais detalhes no site http://petergreenaway.co.uk/tulse.htm
É filme para se ter em casa, e ver, e ver de novo, e ver sempre.

sábado, 13 de outubro de 2007

Autran, bem mais que Resíduo

um premonitório aviso do que fica: resíduos.



No caso de Autran, ficam bem mais do que resíduos. Autran era daqueles caras que mereciam ser imortais. Sensível, brilhante na sua longa carreira de ator de teatro e algumas novelas, mas principalmente um grande ser humano, tolerante, bem humorado, lúcido ao extremo, realmente, não era pra ele ir agora. A quem devo encaminhar reclamação por tão grave erro de cronograma? Fica aqui a nossa mais profunda saudade.